29 outubro 2008

Latadas

Na última semana sucedem-se as manifestações estudantis. Um estudante parou ao pé de mim e disse-me:
- Senhor J., não faça essa cara. Nós estamos apenas a realizar plenamente os vossos objectivos geracionais. Sexo, drogas e Quim Barreiros.

O senhor J. Cortado ao Meio


O senhor Watson e o senhor Crick


O senhor J. cortado ao meio
o pénis
isto é uma história mental
escapou à partição
lê a biografia de um rei antes que
acabe a monarquia
caça a sua metade numa finca
argentina
anoitece e a metade cega vê a outra
reflectida no vidro
já não consegue calar
as criancinhas
quando choram
por motivo
dos dentes de cólicas
de dor de ouvidos
do medo
do negócio de manter a mãe
de mama na arreata.

Cortado ao meio conhece
a natureza do Mal:
a banal mortífera cruel
natureza dos homens e mulheres
que há três mil gerações
vieram
os que vieram
empalidecer para o frio
do Norte
onde alguns
algum tempo depois
foram cortados ao meio
para compreender

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27 outubro 2008

O Fim do Carnaval

Mil novecentos e vinte e três, mas muito à frente. Leia aqui O Fim do Carnaval.

//sent by Rosaarosa

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26 outubro 2008

O Joerg era um malucão porreiro


Edmund Kesting

Há uns anos uns sociais democratas que então governavam a Europa ficaram escandalizados com o povo austríaco, que dera muitos votos a um partido xenófobo e negacionista. Quiseram castigar os austríacos e ensiná-los a votar bem, que, como o señor C. explicou em Diário de um Mau Ano, é votar no cidadão A ou no cidadão B. O líder do tal partido morreu há dias, num acidente de automóvel. A viúva suspeita de que ele teria sido drogado. Mas quem acredita nas suspeitas de uma viúva? Um rapaz, o delfim do partido xenófobo, disse que estava inconsolável. O Estado austríaco, que é o Estado a quem tudo acontece, deu-lhe um funeral nacional. E os jornais respeitáveis do Ocidente (cf. Jorge Almeida Fernandes, no Público do passado dia 24) escreveram artigos a limpar o homem. Ele era um bissexual que tanto electrizava as mulheres (vejam a viúva Haider electrizada) como os homens (a crer no outing do afinal futuro ex-líder). Quem disser mal dele fica agora sob a suspeita de homofobia. O Joerg era um gajo porreiro, um malucão, com aquelas peculiaridades de não gostar dos emigrantes nem acreditar na invenção judaica do Holocausto. O Joerg tinha estado num bar gay durante a noite e de manhã foi dar um beijo à Mãe Haider, que fazia anos. Quem não se comove com um líder que alia a diferença à virtude, a loucura da noite com a compostura do dia, o amor aos homens com o amor dos filhos. A malta desculpa sempre um malucão, e até simpatiza. Venham os fascistas desde que a República seja de Saló.

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24 outubro 2008

Declaração


Kikai Hiroh

Este blog é contra as velhas do rastreio auditivo. Da estirpe dos blogs outrossim exangues.

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Fim da Biodiversidade


Kikai Hiroh

O Magalhães foi um êxito na Escola X+T da cidade de L. A televisão mostrou. Cento e noventa e três meninos. Gostam muito. A professora diz que o Magalhães acrescentou motivação. A professora fala com a assertividade de um treinador de futebol, ou de um chefe de vendas. - Gostamos de jogos, dizem as meninas. E os meninos: - Gostamos de jogos. Só um prefere escrever nos cadernos de linhas. Um só, não quis o Magalhães. E era o teu filho.

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23 outubro 2008

A Nova Ordem Financeira Internacional



"É preciso criar uma nova ordem financeira internacional e dar uma resposta global à crise", Durão Barroso.



“A transformação não virá da UE ou dos EUA. Terá de lhes ser imposta pela vontade dos cidadãos dos países que mais sofreram com os desmandos recentes do capitalismo de casino.”, Boaventura de Sousa Santos

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22 outubro 2008

Uma "concepção do mundo" e algumas ideias

(...) reforça a opção pelo trabalho de gestor profissional e abandona a política após 37 anos dedicados à "construção de um Portugal democrático mais justo e moderno, mais europeu e desenvolvido”.

dos jornais, 2007



"(…)

Mariline está cheia de ideias a respeito da hierarquia das riquezas. Deu os primeiros passos em Paris, em 1941, em Saint-Germain-des-Prés, tinha dezoito anos e chegara de Nantes; frequentou os intelectuais de esquerda, pagando à própria custa o prazer que sentia em ouvi-los discutir. Mais tarde, trocou sem desespero o seu quarto na rua Saint-Benoît por um estúdio no cais d’Auteil; a maior parte dos seus amigos comunistas tinham perdido a fé, à medida que se desfaziam as esperanças do pós-guerra; aqueles que se tinham “transferido para a produção”, como eles diziam, haviam vencido na generalidade, aplicando aos negócios a táctica e a estratégia aprendidas e praticadas durante as lutas pelo Partido ou no interior do Partido; eles tinham-lhe facilitado a passagem da Margem esquerda para a Margem direita do rio, das camisolas do Café de Flore para os vestidos de Balenciaga. Na altura em que principia esta narrativa, Mariline mora numa casa de seis divisões da praça da Madeleine, por cima de Hédiard, e tem um Giulietta Sprint oferecido por Saint-Genis. Mas guardou dos seus primeiros amigos uma “concepção do mundo” e algumas ideias, bem claras feitas as contas, a respeito das relações do capital industrial e do capital financeiro, das suas imbricações, da constituição dos monopólios, da inegável degradação da pequena empresa, etc.

A Truta, Roger Vailland (1964)

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20 outubro 2008

O Mal de Guillaume


Conheci Montano, a criatura de Vila-Matas, em Barcelona, no atribulado Natal de 2002 , e depois, com mais tempo, nos Picos de Europa, no Verão de 2003. Montano, dizia o pai, parecia-se fisicamente com o filho de Gerard Depardieu, esse joven que es actor como su famoso padre y que destroza todo lo que encuentra a su paso y que , al ser preguntado por su futuro, acaba de declarar que el mérito para él es tener veintinueve años y seguir vivo.
Agora Guillaume Depardieu perdeu o pouco mérito que tinha. Qualquer vírus leva quem como ele conviveu com o perigo. Montano não escreve. O pai perdeu-se na narração. O que ficou desse Verão, dum bezerro encontrado nos caminhos do Arcebispo?

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Isto acontece em todo o mundo civilizado.

(...)

"Disse-nos: 'vou sair do Governo, saí do Governo, e tenho disponibilidade para apoiar a Martifer na abertura ao mercado internacional'. Isto acontece em todo o mundo civilizado."





"Se me perguntar se este concurso eólico é importante para a Martifer, eu digo-lhe que é importante para Portugal."


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14 outubro 2008


André Bonirre


Morre um peixe
e secam os bonsais
o resto tudo igual
tudo igual

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10 outubro 2008

Houve pânico mas somos fortes



"Nós aqui estamos a olhar para o futuro..."


"Vem aí uma vaga de nacionalizações..."

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08 outubro 2008

Sobre a inquietação

"... Cavaco Silva pede medidas de apoio social. Vítor Constâncio admite flexibilidade orçamental em 2009. José Sócrates garante que o Governo tomará medidas para apoiar as famílias mais afectadas pela crise financeira."



"É muito boa e nossa amiga, não obstante a ausência de leite, lã ou até uns bifes."


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Pinheiros bravos


Eva Besnyo

- Não nos devemos preocupar com a crise financeira- disse um responsável da crise financeira. – Devemos preocupar-nos com a crise económica.
Eu digo que nos devemos preocupar com o tremendo êxito do nemátode dos pinheiros.

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07 outubro 2008

Sobre esperar

E não eternizar, saborear o compasso.



Diante das lojas com portas que abrem para cima às quatro ou cinco para as nove.



Diante da noite, com portas que fecham para baixo às duas ou três para o sonho.

(sobre esperar)


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06 outubro 2008

Uma Universidade fechada é o princípio da Universidade Aberta


August Sander

Fecharam a Universidade Moderna, a universidade de Portas, lembram-se?, e fecharam a Internacional. Como dizem os comentadores, a medida só peca por tardia. Tardia e parcelar. O que distingue a Moderna de tantas outras universidades privadas, onde os docentes são mal pagos, não há investigação, nem produção de trabalho científico? Fechem todas as privadas. E aproveitem o balanço, sejam corajosos, uma vez sem exemplo, sejam corajosos e apliquem critérios de rigor às Universidades públicas. Fechem todas as Universidades.

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Sobre os cursos da voz





"No ensaio horizontal dos ramos dos pinheiros carbonizados rente à estrada, nas linhas dos postes de telefone erguidos acima, onde as colinas se cansaram de subir e passam a palavra."

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Cavaco


Lucia Moholy (British, b. Bohemia, 1894–198)

Tal como acontece quando vejo Cavaco. Rir de quê? porquê? para quê? para quem?

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Os Gatos

Os Gatos Fedorentos voltaram. Mas depois dos Contemporâneos, depois de Nuno Lopes , os Gatos parecem mainstream e já não me fazem sorrir.

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Ministra

Vi a ministra da educação de visita a uma escola de Loures, aquele problema da carteira, e tive pena dela, pena e simpatia, vontade de lhe agradecer o serviço público.

País muito relativo?


Lotte Jacobi (American, b. West Prussia, 1896–1990)

O Tiago Barbosa Ribeiro encerrou o que foi o excelente Kontratempos e entrou num projecto colectivo “socialista e social-democrata” “portanto crítico”. O começo de País Relativo não é animador. Esperava-se que reparassem na vergonha do dia 10, no parlamento, onde o Partido dos socialistas e sociais democratas impôs a disciplina da direcção aos eleitos que porventura queiram acabar com a discriminação homofóbica no casamento. Mas estes críticos ainda não deram conta. Mau começo.

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Marcelo (bis)


Kata Kálmán (Hungarian, 1909–1978)


Quando o comunismo implodiu nas pátrias do socialismo real os verdadeiros comunistas explicaram que o comunismo não tinha falhado. O comunismo era bom. Os homens é que tinham cometido erros profundos. Hoje vimos o professor Marcelo dizer que nenhum partido vai ter coragem de se apresentar às próximas eleições debaixo da bandeira do mercado. Mas a culpa não é da economia de mercado, acrescentou com alguma e surpreendente timidez. A culpa é dos seus maus gestores. Uns malandros que o Júdice diz que andam para aí a cheirar linhas de coca e a estragar a economia de mercado.

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Marcelo


Hannah Höch (German, 1889–1978)


A ERC reduziu o tempo do programa do professor Marcelo para assegurar o pluralismo atendendo a que o Vitorino, Vitorino quê?, tem menos tempo de antena .O professor Marcelo é compreensivo. Aceitou o afastamento da TVI nos gloriosos tempos do santanismo e entrega agora quinze minutos de homilia sem dar luta.

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05 outubro 2008

Uma Páscoa


Como toda a gente fui criança e feliz porque a minha irmã dançava vestia fatos da dama antiga encantava serpentes lia em línguas estrangeiras a doçura cantabile das tardes da Páscoa dos cristãos quando mas como é que podíamos saber a Páscoa e os cristãos estavam a acabar. E então inesperadamente no princípio do verão num dia de férias a minha irmã acordou tarde e quando entrou na sala baixou os olhos para esconder o vinco de gravidade que marca mas como é que podíamos saber a adolescência

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04 outubro 2008

"Quando sós à boleia do crepúsculo"



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03 outubro 2008

"Ainda não é o fim nem o princípio do mundo calma é apenas um pouco tarde"



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Frases



Qualquer mulher é um homo faber.

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01 outubro 2008

Terra a terra


André Bonirre


Levanta-se de madrugada. Vai à cidade de P. Leva um morto
traz outro.

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De dia, entre os veludos


VI

De dia, entre os veludos e entre as sedas,
Murmurando palavras aflitivas,
Vagueia nas umbrosas alamedas
E acarinha, de leve, as sensitivas.



Fosse eu aquelas árvores frondosas,
E prendera-lhe as roupas vaporosas.






RESPONSO, Cesário Verde

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