18 abril 2008

Verbívoros, para que servis

Quando Catarina vê Horácio o seu coração bate mais depressa. É assim que ela conta a cena. O seu coração bate mais depressa. Não devia bater. Horácio magoou-a há algum tempo. Estava a deixá-la sem que ela percebesse. Mas quando cruza com Horácio o coração bate mais depressa. Ela gosta. Agora Catarina conhece Coriácio. Quando o vê o seu coração bate mais depressa. Ela procura-o. Gostava de o ver todos os dias. Todas as horas do dia. Se Catarina tivesse um nome para o que sente, a sua vida seria mais fácil. Se houvesse uma palavra para a taquicardia de Horácio e outra para a de Coriácio, a vida de Catarina, as resoluções que Catarina pensa ter de tomar, seriam mais conformes à sabedoria e à verdade com que ela procura iluminar a sua conduta. Verbívoros, Word-watchers, não há palavras para o bater do coração de Catarina? E para o outro bater do coração de Catarina? Não há palavras para distinguir o coração Horácio do Coriácio? Oh gente fútil, nos corredores do Acordo Ortográfico, nas aulas desertas de Linguística, ainda e sempre nos Maias. A vossa indiferença às coisas da rua deixa Catarina desamparada.

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