23 abril 2008

Vais às vielas ouvir o teu nome na boca das mulheres


Qiu Zhen


Agora sais de casa
De manhã preciso de palavras forte. E café. Sobretudo de palavras. Sobretudo de café. Palavras como canções. Uma melodia sussurrada. Palavras antigas. Frases incompletas.
Agora sais de casa vais às vielas
Frases ditas há tanto tempo que são como pedras, como casas abandonadas, como o vento, a chuva, o rodado dos carros no asfalto.
Agora sais de casa vais às vielas ouvir o teu nome na boca das mulheres
As palavras que os seguranças trocam sem se verem. As palavras que o P. escreveu à noite e chegaram de manhã. As palavras da canção de embalar, que as duas enfermeiras trautearam e já fazem parte do sono. As palavras com que as pessoas se deixam, as palavras que o meu pai não teve tempo para deixar.
depois logo se vê; um ponto de fuga, uma luz paciente, o pigmento da noite
As palavras circulam. Vivo delas. E do café da manhã. Preciso delas. E do café. Vêm fragmentadas.
deita a cabeça no gato que dobra a esquina, tenta o Azul da Rússia
Vêm como ondas, como uma rebentação. Às vezes calam-se. Dou de comer aos peixes. Às vezes parecem desaparecer e com elas a urgência de qualquer coisa que deve ser a vontade vã de dar sentido.
não sabes de onde vens nem para onde segues,
Demoro o duche. Depois voltam. As palavras.
tenta qualquer coisa à excepção de tudo.

As palavras de hoje eram assim:


Agora sais de casa vais às vielas ouvir o teu nome na boca das mulheres. depois logo se vê; um ponto de fuga, uma luz paciente. deita a cabeça do teu pensamento no gato que dobra a esquina, tenta o Azul da Rússia, não sabes de onde vens nem para onde segues, tenta qualquer coisa à excepção de tudo

(Retirado do blog Regabofe)

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