28 abril 2008

Um texto afinal medíocre


Zang Xiaogang

Acho este texto excelente. Não este, que escrevo, mas aquele que li. Se o ler com os teus olhos, claro, noto-lhe umas imperfeições. Se o ler com os teus, perco o entusiasmo. Com os teus, nem chego ao fim. Meus amigos, tão exigentes. E ao mesmo tempo cheios de vontade de se maravilharem, de se surpreenderem com a extrema qualidade, de darem cinco estrelas, de recomendar vivamente. Neste exercício de visibilidade, quase não preciso de comentários para aquilo que escrevo. Basta-me o teu silêncio, de ti o breve entusiasmo, o teu sarcasmo. Basta-me reler. Já fui um leitor perfeito. Já fui a tábua rasa, a página em branco, a superfície lisa onde o estilete desenha a palavra justa. Já em mim ecoaram frases tão perfeitas como a claridade, tão harmoniosas como o entardecer no carso. Devia ter ficado ali. Ter morrido, ao menos como leitor, nesse instante de partida. Quando líamos textos com razão ou sem ela, acendíamos fogueiras e as mulheres se abriam às últimas brasas.

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