22 abril 2008

afinal havia ostras


An Hong



afinal as ostras requintadas de arcachon, da bretanha e da normandia vêm, ou antes, vão de sagres! (santo deus!, já estou a escrever sobre ostras!)
parece que na ponta mais ocidental da europa há uma mistura desumana das águas mais quentes da profundidade com as águas frias da superfície, enregeladas estas pelo vento forte da nortada de que todo o ibero com bom senso foge desde o cabo finisterra e desde os tempos mais galaicos. enfim, tudo o que nos lança em debandada dali a sete pés é o que faz medrar os benditos bivalves como melões (agora então é sobre ostras e melões...)
já houve épocas de pompa e glória da ostra portuguesa que dominava a cuisine française (para os mais pequenos que não sabem que língua é esta: lê-se kuizine fraoncéze e, imaginem!, significa cozinha francesa – quem diria, hein?! ).
depois parece que houve uma crise, uma virose, um alcácer-kibir, uma coisa assim e a ostra portuguesa desapareceu dos bistrots (lê-se bistrô e é bistrot) para ser substituída pela japonesa (a ostra). há algum tempo, porém, renasceu a ostra portuguesa, plantada no sado por nacionais e em sagres por um francês.
qualquer deles se queixa dos ecotalibãs que lhes dificultam o negócio.
desconfio eu que as condições aquíferas e climatéricas especiais da ponta de sagres seriam conhecidas há muito. se calhar foi por essas e por outras (como o monopólio de coral) que a henriquina e ínclita figura ali construiu o seu resort. se calhar a escola de sagres existiu mesmo, ao contrário do que dizem as más línguas pouco dadas ao romantismo histórico. a escola de sagres pode ter sido o tetra treta avô do gigi.
pelas minhas contas são nove tetras. avós.
e egrégios, todos eles.

à propôs (á prôpô): isto pede uma história à mário-henrique leiria:

quando arrearam a gaiola, encontraram esparramado lá dentro um anafado polvo de quatro kilos.
—um polvo na gaiola das ostras! — repetia assarapantado o joaquim joão que andava naquelas lides há um bom par de anos depois de ter feito uma desintoxicação de lápis faber.
— e nada de ostras! — repetia numa desconfiança catatónica.
— às vezes acontece — explicou o joão joaquim que sempre se dedicara à ostracultura e, por assim dizer, já tinha a arte no sangue. começara mesmo a desenvolver uma preocupante calcificação rugosa nas mãos.
e continuou com um olhar biválvico e sabedor:
— o polvo entrou ali ainda jovem pelas malhas da bolsa e viveu toda a vida comendo uma a uma todas as ostras com quem dividia a casa.
joaquim joão arrepiou-se com tão bárbaro condomínio. mas o companheiro apazigou-o com aquela dose de filosofia que todos reconhecemos nas pessoas que passam grande parte do seus dias a chapinhar na água:
— não te amofines. é só mais um caso de um polvo devotado ao ostracismo.


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