02 março 2008

Um


Eric Ogden (Time)


O caçador furtivo disparou e falhou o tiro. O antílope tremeu nas patas mas rodou sobre si próprio e conseguiu acompanhar os outros, ao longo do deserto, uma sombra que se dissipa como as nuvens. O caçador calça a bota em que apoiou a arma e desce para o descampado. Há sangue na areia e ele segue-lhe o rasto com um binóculo. Esperamos ver um antílope em dificuldades, que se atrasa do bando. E de repente, por breves instantes, vemos outro animal. Está ferido, afasta-se, voltando para trás um olhar acossado. É um cão dos traficantes de droga da fronteira. É o diabo das representações medievais, vai voltar, sem pescoço, vai voltar, a sua baba, a sua determinação silenciosa, a bocarra que abre no pórtico da igreja de Saint Trophime de Arles, nos túmulos de dom Pedro e dona Inês, conhece o cheiro das nossas roupas e vai voltar.

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