05 fevereiro 2008

Elogio do jornal Público e dos que o escrevem


Cy Twombly

Segunda-feira de Carnaval, uma pessoa a imaginar os jornais entregues às agências e aos preguiçosos que não conseguiram “interrupção” e veja-se o Público de 4 de Fevereiro: um destaque sobre o declínio do casamento católico no Norte e uma referência a um estudo sobre o envelhecimento e a solidão. Na página 12 uma fotografia de Daniel Rocha conta, com Andreia Sanches, a história de um homem que não existiu, violado todos os dias, o 61-50-63 na Casa Pia dos anos sessenta. No P2 Alexandra Prado Coelho escreve sobre o movimento de arte contemporânea da China eufórica, onde parece passar-se tudo o que é importante nos nossos dias, da arquitectura ao extermínio das massas. Ainda no P2, Paulo Varanda dá notícia das conferências de Maria José Fazenda sobre coreografia e formula votos piedosos de que elas saiam da Culturgest para as terras do interior. Na última página, Rui Tavares, um dos poucos que, em público, se arrisca a pensar e a fazê-lo à esquerda, escreve desta vez sobre o Regicídio. Um pobre agradece e bate palmas com ambas as mãos. Além do mais o jornal não refere o casamento do Sarkozy nem traz fotos do par real a passear nos jardins do Eliseu (é notável como Carla Bruni, de casacão Cortefiel, enfeiou e envelheceu com o convívio presidencial). Já no Ipsilão de sexta, entre as habituais pérolas de Eduardo Pitta (sobre Robert Graves) e Pedro Mexia (um reaccionário genial a escrever sobre outro), há notícias do cinema soviético do degelo (Luís Miguel Oliveira), da vinda a Portugal dos Balanescu (João Bonifácio), e Alexandra Lucas Coelho escreve um roteiro genial do Porto onde só faltam a Casa das Artes e algumas caralhadas mais. Glória a um jornal assim e aos que o escrevem, quando o Libération se tornou uma simpática folhe de couve em extinção, o Le Monde um obituário e o El País um respeitável programa de governo europeu.

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