27 janeiro 2008

Tiveste muita sorte



Namorei-a três dias. Ao terceiro dia disse-lhe: - Não tenho jeito para namorar - namorava-a há três dias, dez minutos por dia, se tanto - não tenho jeito para isto. E era verdade. Antes dela só conheci uma mulher. A Carina Olson, sabe quem é a Carina Olson? Nem eu, mas foi a mulher da minha vida durante sete meses. Estava num calendário de parede, na lavandaria, quando lá cheguei. Eu era responsável por aquela roupa toda. Lençóis como este, toalhas, fronhas de almofadas. Treze toneladas de roupa de Santa Maria. Todos os dias. Uma tonelada da Estefânia. Três toneladas do Curry Cabral, cheias de sangue e supuração. Dezassete toneladas de roupa por dia. Lavada, enxuta e passada a ferro em menos de uma hora. Uma bata como a sua traz um litro de água à saída do túnel da máquina de lavar. Demora cinco segundos até ficar enxuta, engomada e dobrada. Um espanto, não é? E durante esses meses, na lavandaria, a controlar aquele espanto, sabe quem é que lá estava? Eu e a Carina Olson. Se eu adoecesse nessa altura, ou tivesse um acidente grave, daqueles que atiram um homem para a escuridão, quem viria comigo havia de ser a Carina Olson. Não havia outra até ao dia em que conheci a minha mulher. Trabalhava numa copa, levava comida aos doentes de Oncologia. Namorámos os tais três dias, como lhe disse. E ao terceiro dia fui assim para ela: - Queres vir viver comigo? Respondeu-me: -Pode ser. Não tinha nenhum pertence, nem família, a minha mulher é órfã, e a roupa dela era a que trazia vestida. Eu comprei-lhe roupa, uma blusa, uma saia, meias e até roupa interior lhe comprei. Depois levei-a para casa e disse à minha mãe: - Esta é a minha mulher, vem viver connosco. Foi há oito anos. A minha mãe ainda agora diz:- Tiveste muita sorte, podia ter-te calhado uma ladra, um estupor, uma pega, sei lá. Mas é uma mulher como viu, cá está ela a telefonar, dê-me licença, ainda agora chegaste a casa e já me estás a telefonar, está bem, mulher, alma assustada, está bem, eu digo-lhe, ele está aqui ao meu lado, não percebo para que é que queres isso mas digo-lhe, adeus, anda, mulher, vai descansar agora que bem precisas.

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1 Comentários:

Blogger Maria disse...

Não é preciso muito tempo para namorar.
Basta um segundo para se querer namorar.
Depois, se quisermos e se dermos tempo,vai-se namorando.

www.quereredizer.blogspot.com

terça-feira, dezembro 07, 2010  

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