07 setembro 2007

Setenta vezes sete


Alyson Brady


Na rua em que nasci vejo o prédio e o andar. Estão bons para o camartelo. No bairro operário, onde agora escrevo, estou quase sozinho. Eu e o senhor Nuno. Depois do pôr-do-sol, o senhor Nuno calça umas luvas pretas iguais às dos rapazes da musculação e anda na varanda da casa, sete passos para cada lado, ida catástrofe e volta, setenta vezes, até ser noite ou a dona Mariazinha o ir buscar e acabar com aquela agonia peripatética. Hoje apanhou-me a sair de casa e perguntou-me: - Então vai vender o andar? Andam aí a dizer que nos vai deixar. Sosseguei-o. Nunca deixo os sítios que habito. Se tivesse dependido de mim continuaria a viver no prédio da rua em que nasci. Não suporto a ideia de viver num sítio sem o senhor Nuno e a dona Mariazinha.

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