12 setembro 2007

Escrito na areia

Os médicos não lidam com a morte. Se exceptuarmos os médicos de Cuidados Intensivos, os raros médicos de Emergência e Transporte de Alto Risco, o dr. Pinto da Costa e os médicos da Anatomia de Grey, a morte é uma circunstância excepcional na prática clínica. Um cirurgião pode nunca ter contacto com a morte, ou pelo menos são os votos que fazem os pacientes. Um médico de clínica geral que trabalha num part time de um dia e meio por semana tem uma probabilidade baixíssima de ter um morto na consulta. Fiquei sinceramente preocupado por cheirar a morto, ou por uma mulher sensata pensar que levo comigo o cheiro que os cães assinalam. Esfreguei-me até à abrasão, fiquei a ver o meu ADN a ir pelo ralo abaixo, pus óleos de flores e madeiras na pele inflamada. Será que ainda cheiro? Será que cheiro aos mortos perfumados? Será que o cheiro fica para sempre? Tudo dependendo do olfacto, da proximidade, dos ventos dominantes?

(Para Vieira do Mar)

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