07 julho 2007

Elogio da Zara



Em 1977 eram fantásticas as mulheres de Montpellier e aquela mulher perfeita de Paris, a editora do livro de Bertrand. Já a nouvelle vague tinha refluído e os Cahiers du Cinema acalmado, já a pílula se vendia sem receita médica e ainda não tinha sido inventada a sida. O mundo era um lugar afável, onde um homem podia parar em frente a uma loja de lingerie. As telefonistas do serviço de despertar tinham vozes de gargantas verdadeiras. Os telefones eram de baquelite e tocavam o som que identificava as chamadas telefónicas. Nos restaurantes as mulheres dos médicos entediavam-se e lançavam olhos dardejantes aos cavalheiros das mesas solitárias. Faziam-se filmes como os filmes de François Truffaut. Filmes secretos, delicados, sobre pessoas como nós gostaríamos de ser.
Mas a roupa das mulheres, em 1977, em Montpellier e em Paris, era horrorosa. As pernas das mulheres, nos vestidos de Dior ou do Ted Lapidus, parecem curtas. Os sapatos acrescentavam os gémeos, os tecidos não colavam às ancas, a lingerie parecia desenhada pela Dona Henriqueta em noite de delírio sado. Não há hoje nenhuma cadeia de pronto a vestir hispano-asiática que não perceba melhor a anatomia das mulheres. As pernas de 2007 são muito melhores que as de há 30 anos. E as mamas, os umbigos, os rabos, os pés, as costas e os fundos das costas. Bertrand havia de gostar. Ele previu os dias a vir, quando consolou a menina de vestido vermelho, aliás azul, sentada no fundo de uma escada. Mas não podia saber que o joelho da neta de Claire seria tão perfeito

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