14 maio 2006

Um amor forte de Ratzinger



Políticos e legisladores” salvaguardem “os direitos da família”:disse o Papa no que foi considerada uma nova e total condenação das “soluções jurídicas para as chamadas uniões de facto” que, “recusando as obrigações do matrimónio, pretendem obter direitos equivalentes”. Ratzinger discursava para uma organização católica internacional, num momento em que em Itália se discutem leis sobre as uniões de facto, no âmbito de revisão da concordata. Lançando o peso da Igreja no debate, o Papa avisou ainda os incautos: “No fim de contas o objectivo desta nova definição do matrimónio é a legalização das uniões homossexuais”.

Para Ratzinger o matrimónio poderia ainda ser defendido se “os cônjuges recorressem ao apoio de Deus com a oração e a participação assídua aos sacramentos particularmente à eucaristia”. (Reppublica, aqui).
Para o DN o Papa terá defendido o matrimónio, para “evitar a confusão com outro tipo de uniões, fundadas num amor fraco.” E a notícia termina com uma frase sibilina: O Papa apelou para que seja ultrapassada “uma concepção privada do amor, actualmente muito difundida”.

Na verdade, a defesa do matrimónio é, para Ratzinger, acessória. Um tique da tradição de luta política do Vaticano contra as sociedades laicas. O matrimónio é para a Igreja uma espécie de célula combatente, uma questão de enquadramento do povo cristão, um aspecto de organização. Tem pouco a ver com o amor,o Amor, e a visão de Ratzinger do Amor.
Desde a encíclica Deus Caritas est que Ratzinger persegue uma formulação do amor. Nem Eros (“o amor mundano”), nem Agapé (“o amor fundado na fé”), nem a fusão dialéctica dos dois, através do amor ao sangue do deus trespassado. Caritas, o amor comunista.
O amor é « divino » porque provém de Deus e a Deus nos une e, mediante este processo unificador, transforma - nos num Nós, que supera as nossas divisões e nos converte em uma só coisa, até que no final Deus seja « tudo para todos » (cf. 1 Co 15, 28)- escreveu ele na encíclica. E para que não houvesse dúvidas, nesse mesmo contexto, citou as escrituras:

Os crentes viviam todos unidos e tinham tudo em comum; vendiam as suas possessões e bens e repartiam entre todos, segundo a necessidade de cada um » (Hch 2, 44-45).

O final da primeira encíclica de Ratzinger é, aliás, a apologia delirante do amor à Virgem Maria, consagração dessa forma pública de amor e uma sugestão de fantasia para a praxis do povo cristão.
É um pouco nesse sentido que Fátima deve ser encarada. Uma celebração desse amor colectivo, onde o corpo e a alma da multidão sobem (Eros) e descem (Agapé), com Maria, através de Maria.Fátima é um campo de treinos para este novo Amor ratzingeriano, forte e colectivo, que não desmerece do amor privado das sociedades individualistas. Se estivermos atentos a Fátima e à evolução da eucaristia em Fátima, poderemos ter boas surpresas.

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