10 maio 2006

Três anos

Há três anos, André Bonirre rumou aos Açores para procurar Ana Paula Inácio, que ameaçara deixar de escrever. Encontrou Margarida Clarck Dulmo, ou alguém por ela. Uma escrevente emocionada que lhe fez esquecer os ruídos subterrâneos do Pico, a rede densa de túneis por onde circulava um espírito literário. Ana Paula Inácio não queria escrever nem ser encontrada. Há em alguns versos um rasto dela, tão espectral como o personagem dos seus contos breves (1). Bonirre esteve à porta da casa dos poetas e em boa hora a sua mão tremeu. Passaram três anos. O Iraque de ontem é hoje o Irão, mas isto não dá luta, com o Império a negociar, e todos, todos, vergados à ditadura do bom-senso, tão formatados como as Anabelas e as Íris Salomés pelos pronto-a-vestir dos shoppings. Bonirre partiu para a Guatemala e desta vez não procura ninguém, entre mortos e vivas, nem leva ninguém, apesar dos custos adicionais da solidão no alojamento. Deixou duas fotos de fingir, para compor o desamparo deste blog. E se houver net em Antigua, talvez mande imagens de cães esquálido, de boca fechada.


1. Ver Carlos Bessa, Assírio Alvim, 2005.

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