22 janeiro 2006

Mary vota Cavaco no Mal



"Domingo quero Cavaco, porque não o suportava quando terminou o
mandato de primeiro ministro, mas a vida provou que depois dele só pior...
Porque se preocupou em fazer a sua campanha sem se preocupar com os
outros...
Porque detesto o interesse político e a traição...
Porque o
considero competente e honesto e estou farta de incompetentes e corruptos...
Porque embora com pouca esperança
quero que o ministro da saúde o deixe
de ser o mais rápido possível."

Um anónimo que se assina Mary, ontem, na caixa de comentários deste blog





Mary, seja quem for, mesmo que seja Albert,

Cavaco preparou durante anos a sua candidatura. Em 2005 traiu Lopes, o principal obstáculo. Escreveu o artigo da moeda boa, disse aos seus habituais porta vozes e câmaras de ressonância para porem a correr a sua posição.

Há quem diga que a aliança Cavaco -Sócrates não foi apenas objectiva.
Sócrates pagou o apoio de Cavaco com o maior desinteresse pelas Presidenciais. Com a candidatura de Cavaco firme, no terreno, o Partido que detinha a maioria absoluta, não arranjou uma candidatura credível, descredibilizou a de Alegre, retirou-lhe força, fragilizou-a, e finalmente recuperou Soares. Ao mesmo tempo, com habilidade política, a candidatura de Cavaco conseguia neutralizar a direita e a extrema direita e impedi-la de aparecer na contenda. O seu voto de hoje, Mary, é também o voto útil dessa gente encapotada.

Cavaco é competente (em áreas que não têm a ver com a função PR. Lembre-se do desconhecimento que mostrou no dossier vital da Segurança Social). Tenho-o por honesto. Mas atrás dele estão perfilados os desonestos do costume. Metade dos responsáveis pelo nosso atraso. A desonestidade e a corrupção são um efeito sistémico, não são uma perversão dos homens maus. E Cavaco/Sócrates, ou Cavaco/manipanso-que-o-PSD-criará se Sócrates falhar o “bom governo”, são o melhor que o sistema que gera e vive da desonestidade tem para oferecer.

Fez a sua campanha sem se preocupar com os outros, de acordo com a sua natureza avessa ao debate de ideias e à leitura de jornais, e à táctica desenhada entre outros por Pacheco Pereira, a que eufemísticamente chamaram de não-declarativa. Esconder a face. Esconder as verdadeiras opiniões. Para não afastar pessoas como a Mary, que se lembravam do Cavaco do tabu, do deserto cultural e da prepotência.

Só há uma maneira de conseguirmos uma parcela mínima do que queremos. Ser plenamente. Todos os dias. Pelo menos depois das dez da manhã, essa hora fatídica. Se assim formos, o voto, Cavaco, esta discussão, a queda do ministro da saúde, são pequenas coisas de pormenor.