30 novembro 2005

A janela


// andré bonirre

Enquanto anoitece


Quando na manhã do terceiro dia da sua estadia em Strasbourg o dr. L. viu Lúcia, sentiu uma dor no peito. E foi assim todo o tempo que a viu, praticamente nenhum, porque ele partiu nessa tarde, mas muito, se atendermos a que durante a viagem de regresso e mesmo depois, ao encontrar-me na esplanada do Império e me responder evasivamente às perguntas que lhe fiz, ele punha instintivamente a mão no peito e falava com esforço, num tom de voz pouco habitual. O homem estava doente. Além do mais não escrevia. Disse-me que se esforçara por o fazer, mas que tudo lhe parecia deslocado, metafórico, menos que a realidade. A realidade para ele era Lúcia, ou o entendimento que tinha feito dela, a janela de vida que entrevira. Eu já vi alguns homens assim. Para algum lado devem ter ido mas não me consigo lembrar do que lhes aconteceu. Depois do dr. L. me deixar fiquei a olhar para as pessoas que passavam e para os que estavam sentados na esplanada. Mas anoitece cedo nestes dias e, à luz dos candeeiros, não consegui ver nada do que esperava.

TPC - espaço/tempo


// andré bonirre

29 novembro 2005

Os melhores do ano (vote aqui)




Os Emigrantes, W.G. Sebald, Teorema
Paris Nunca se Acaba, Enrique Vila-Matas, Teorema
Prufrock e outras observações, T. S. Eliot, Assírio & Alvim.

No Coração desta Terra, J M Coetzee, D. Quixote
Vida Oculta, Pedro Mexia Relógio D’Agua
Mútuo Consentimento, Helder Moura Pereira, Assírio Alvim
Liberdade Evolui, Daniel Dennet


(com a colaboração de Heitor e Lúcia)

(ela) saiu sem dizer nada


// PC

28 novembro 2005

french kissin'

Com imperdoável atraso: como devem ter notado, Terras do Nunca é agora french kissin'. Para todos, incluindo os que gostaram do Adeus Princesa.

João Lobo Antunes a ajudar Portugal

O mandatário nacional de Cavaco foi ontem entrevistado por Maria João Avilez. Ele tratava-a de Maria João, ela de Professor. Anotei as principais afirmações do mandatário, confesso que com esforço, pois a táctica de tornar a campanha não declarativa, que Pacheco Pereira enunciou, estende-se ao mandatário e torna as intervenções bastante soporíferas.
Por ordem: o mandatário é movido por um concern operativo, está limpo e tem alguma dificuldade em enumerar as talhas da campanha, mas seguramente que a principal é a procura da felicidade, que a alguns recordará a questão que custou tantas cabeças e finalmente a do próprio Saint Just, mas que nele se confunde com o direito à segurança. O mandatário é procurado por muitas pessoas que lhe mandam recados. Mas o pulsar popular, melhor que todas as sondagens, é-lhe dado pelo contacto na intimidade da consulta (mais de cem por semana, disse ele a uma Maria João preparada para estas revelações). O que o mandatário aprecia no candidato é sobretudo … (Pausa enfática para pedir desculpa por ir usar uma palavra que detesta e não faz parte do seu vocabulário. Depois de devidamente autorizado pela Maria João, e pousando a palavra com pinças em cima da mesa)… a postura. O mandatário aprecia em Cavaco as mesmas qualidades que vê em Sócrates: coragem, sensibilidade e, quando conseguirem soltar aquilo que genuinamente possuem, afecto. No meio houve uma surpreendente metáfora futebolística que fez com que a audiência feminina com quem na ocasião partilhava a sala parasse as conversas e declarasse que nunca esperaria isto dele e que a convivência cavaquista o estava a prejudicar francamente. E acabou relatando o encontro em que o candidato o convidou para o cargo e lhe disse: eu estava tão bem, tão tranquilo. Mas é a minha obrigação.
Relendo estas notas, o que mais me surpreende é a confiança que um homem de ciência deposita na sua amostra. Cem pessoas por semana. Como a consulta é seguramente de qualidade, demora no mínimo meia hora: motivo da consulta, história da doença actual, antecedentes pessoais e familiares, exame objectivo completo, discussão diagnóstica, exames complementares de diagnóstico, diagnóstico final, proposta terapêutica, marcação de seguimento e registo das convicções cavaquistas do paciente. Cinquenta horas semanais. Dez horas por dia, sem breakings, nem interrupções telefónicas, tudo isto entre os tempos de bloco operatório. Uma rotina de neurociências apenas interrompida pela esfusiante demonstração da adesão ao candidato presidencial. Entre a cefaleia, a parestesia, a diplopia, a parésia, a ambliopia e a convulsão, uma palavra de apreço pelo combate cívico, um recado para Cavaco.
- Diga lá ao professor… E ele abre a porta do consultório, empurra docemente para o corredor e sorri. Ele, como a Vanessa das crónicas da Ana Sá Lopes no jornal do sôr zé manel furnandes, aprecia a postura do homem. A rigidez, a angulação e a secura. Um algarvio que veio do nada. Subiu a pulso. E quando estava tão bem, tão tranquilo, o dever chamou-o. Para ajudar Portugal.

Votação dos melhores livros do ano

O blog Livro Aberto está a promover na blogosfera a escolha dos melhores livros do ano.

Direitos Sexuais são Direitos Humanos

A associação não te prives - Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais preparou um programa de celebração do Dia Internacional dos Direitos Humanos para os próximos dias 7 e 8 de Dezembro. Este programa inclui o visionamento, no TAGV às 21:30h de 7/12, do filme-documentário "Sereias" (sobre a acção das Women on Waves, em Portugal, cuja estreia marcou o começo do Festival Internacional de Documentários de Lisboa) e a 8 de Dezembro, na Casa da Cultura, do Colóquio "Direitos Sexuais são Direitos Humanos: educações, linguagens, espaços", com a participação de especialistas de diversas áreas.

Informações e inscrições para naoteprives@yahoo.com

Depois da Esquerda

A Invenção de Morel é o novo blog de José Mário Silva.

TPC - O Mago (plagiado)


// andré bonirre

27 novembro 2005

aguasfurtadas

O número 8 da revista "aguasfurtadas" está já na gráfica.

Inclui textos de Affonso Romano de Sant’anna (um dos melhores poetas brasileiros vivos), Margarida Ferra, João Luís Barreto Guimarães, William Blake (com tradução de Manuel Portela), Forugh Farrokhzad (uma extraordinária poeta iraniana ainda por revelar em português), Moshe Ha-Elion (com tradução de M.V. Andrade), Lourenço Bray, Paulinho Assunção, Valério Romão, António Tavares Lopes, Regina Guimarães, Saguenail e Jorge Mantas. Para além de inúmeros trabalhos de artes visuais e o habitual CD Audio com obras de autores contemporâneos, que, neste número, inclui ainda uma verdadeira preciosidade: duas "Ostras", de Pedro Coelho.

O " Bilhete de Identidade" de Maria Filomena Mónica

O livro está muito bem escrito como quase tudo o que ela escreve. Maria Filomena Mónica é uma figura pública nos meios académicos e intelectuais o que justifica o relevo mediático que acompanhou o lançamento das memórias e que me parece adequado ao interesse dos temas. Os factos relatados ocorreram, na quase totalidade, há mais de trinta anos, e os mais relevantes há mais de cinquenta anos. No que diz respeito aos acontecimentos de Oxford datam do início dos anos setenta. Alguns dos professores referidos, Ayer, Hobsbawm, escreveram memórias em que falam de gente que teve alguma notoriedade, com cópia de pormenores superior à de “Bilhete de Identidade”. A narração é muito equilibrada. Não se vislumbra nenhuma tentativa de justificação, ajustes de contas ou auto elogio. Pelo contrário, quase sempre o tom adoptado é o de banalização de uma vida excepcional. E esse é um dos maiores elogios que se pode fazer a este livro de memórias. Uma menina que cresceu na redoma entediante das boas famílias e que não aceitou os seus desígnios porque queria viver a sua vida, descobriu sozinha o país, traçou os seu caminhos com independência. Trabalhou numa idade em que os colegas nada faziam, teve filhos e manteve com eles laços afectivos invejáveis, tratou os homens como iguais, teve opiniões, procurou compreender. Ficamos a saber mais sobre a geração que se formou no salazarismo e no marcelismo, que andou numa Universidade em que a Carta À Jovem Portuguesa era escândalo, tinha de procurar o médico certo para que lhe prescrevessem a pílula anti concepcional, viu o primeiro preservativo aos vinte e sete anos, escolheu o seu curso, graduou-se, questionou a religião, o poder paternal, o casamento. A narração da infância, da família, da adolescência vigiada é vigorosa . Quantos livros, romances ou ensaios, temos, que nos dêem assim a memória desses anos? O estilo é solto mas rigoroso, bem-humorado, comovedor sem ser lamechas. Só podemos admirar uma pessoa que foi fiel ao seu lema juvenil, “No coward soul is mine”. Num país de covardes, de coitadinhos, de invejosos, ressentidos, sempre prontos para atribuir aos outros os seus falhanços, esta mulher marca a diferença. Se o professor J.P. George, que sabe escrever e sabe ler, não percebe estas coisas elementares, aconselho-o a ler mais, a ler melhor. Não lhe ficava mal. Talvez tenha passado tempo demais a ler Margarida Rebelo Pinto. Não se pode ler tudo. Diminuir os medíocres não traz nada de novo. MFM não foi nem é medíocre. Não ficava mal a George reconhecer que está perante alguém que merece mais que um post automático. Oxalá a noite seja boa conselheira.

Conflito de interesses: Declaro não ser candidato a nenhuma bolsa de Sociologia nem frequentar as mercearias académicas.

Sobre o documento da ICAR acerca da ordenação de rapazes com orientação homossexual.

Na semana passada a imprensa noticiou um documento da ICAR em que se recomenda aos reitores dos seminários a detecção de seminaristas com tendências homossexuais para que estes sejam afastados do sacerdócio. VPV, entre outros, argumentou que os ateus, os jacobinos e a esquerda se deviam calar porque não é nada com eles. O padre João Canijo que a ICAR levou às televisões tinha dito o mesmo por outras palavras menos subtis: “se quero contratar uma secretária tenho direito a escolher os seus atributos”. Um sacerdote, a sua escolha, é um assunto interno dos católicos. Só a eles compete pronunciar-se sobre os critérios da sua escolha. Calem-se os outros. Aqui, nos comentários, Esculápio receitou-me gentilmente o mesmo. Deixar os padres e as freirinhas em paz e preocupar-me com o que verdadeiramente interessa. Suponho que só me é reconhecido falar do meu clube de futebol, do cine clube, da junta de freguesia e da sociedade científica para a qual pago quotas. Acontece que na minha escola havia um crucifixo, se rezavam avé marias e padre nossos. Se não tínhamos falta à missa do dia um de Novembro não foi por acção do reitor e do padre que o aconselhava. Foi há muito tempo, dirão e não vale a pena bater nos ceguinhos. Acontece que a ICAR não é uma instituição qualquer da vida nacional. É a instituição que transporta a fé, a única fé, aspira a converter todos à sua norma, dirige-se a todos e não apenas aos que a ela livremente se entregam, intervém activamente na vida pública. Não apenas considera o aborto moralmente errado, como um crime civil. Não defende que os católicos não devem abortar, mas que o aborto deve ser punido criminalmente, remetido à clandestinidade. O inferno não é um castigo para os associados da ICAR que infrinjam os regulamentos. Ao teimar em manter o sacerdócio uma prerrogativa dos homens com orientação heterossexual não está apenas a tomar uma opção por um modelo, está a dizer que as mulheres e os homossexuais têm uma inferioridade congénita, uma diminuição de capacidades, que não os torna capazes de, ao mesmo nível dos heterossexuais masculinos, exercer o magistério da ICAR, renunciar à dimensão inteira da sexualidade por uma escolha que privilegia a castidade para melhor interpretar e difundir a mensagem religiosa. Uma associação que exclui as mulheres e os homossexuais dos cargos dirigentes não se revê nos valores modernos e não merece confiança para educar as crianças e os adolescentes, promover a saúde e tratar a doença, para tal recebendo subsídios do estado. O escrutínio da orientação sexual dos seminaristas tendo como objectivo a detecção e expulsão dos suspeitos homossexuais é repugnante e ilegal. O respeito que tenho pelos católicos e a amizade e admiração pelos que conciliam a fé com o combate pela dignidade humana é inseparável da crítica ao ultramontanismo.

26 novembro 2005

Bilhete de Identidade



O livro de memórias de Maria Filomena Mónica é um dos melhores livros portugueses do ano e a Maria Filomena Mónica é provavelmente a mulher do ano. Claro que isto é mais fácil de explicar a quem leu o livro. Eu já venho.

25 novembro 2005

25 de Novembro



Porque eu dormia e vieram cantar-me que tudo era possível, já. Porque eu sonhava e vieram dizer-me a liberdade, já. E quando acordei da madrugada, dizem - mas pouco, mas nada.

Levantamento da Cidade de Lisboa, Maria Velho da Costa, 1975

A ICAR mata todos os sonhos

Havia de me converter um padre gay.

Viva O Blog de Esquerda (BdE)

O doente da blogosfera acaba hoje. Boa sorte para o Zé Mário e para os outros também.

Uma pequena diferença



O livro de Maria Filomena Mónica começa a ser discutido na blogosfera.
Parece-me haver uma pequena diferença entre o comentário de Eduardo Pitta e o de João Pedro George. É que um leu o livro e o outro não.

Um lugar para o choro proibido 11



Só Lúcia chorava nas igrejas
E dizia que Santa Justa era a melhor.

Um lugar para o choro proibido 10

Na esplanada vi que chorava Heitor.

Um lugar para o choro proibido 9



Na Biblioteca Geral é convulsivo
Já nos Institutos mais furtivo.

Um lugar para o choro proibido 8



Rente à cadeia na rua de Tomar
E em todas as que levam à Sé Velha.

Um lugar para o choro proibido 7

Às segundas na sessão da tarde
O Millenium vazio para chorar.

Um lugar para o choro proibido 6

No Salão Brasil é aos almoços,
Ao jantar no Zé Manel dos ossos.

Um lugar para o choro proibido 5




Ao café, no bar do Gil Vicente,
Sentado de frente pr' Avenida.


(créditos para André Rocha, A Persistência do Traço)

Um lugar para o choro proibido 4

Chora-se bem no Continente
Melhor no peixe que na fruta

Um lugar para o choro proibido 3

No Arquivo só em 2001
(o Arquivo Morto não dá luta)

Um lugar para o choro proibido 2

Nas piscinas sem sair das pistas

Um lugar para o choro proibido 1

Na sala de espera dos dentistas,
À saída depois da anestesia

24 novembro 2005

Bilhete de Identidade



O livro do ano é o livro de Maria Filomena Mónica. E ainda só vou na separação.

A minha escolha: os cinco mais



Lúcialima, Maria Velho da Costa


Finisterra,
Carlos de Oliveira


Para Sempre, Vergílio Ferreira


Directa,
Nuno Bragança




Sinais de Fogo, Jorge de Sena

A escolha de André Bonirre

Não sei se escolho com a minha memória se com a do gajo que era quando li:

Levantado do chão (lido na RDA e uma surpresa, pois tinha o gajo rotulado nos grandes chatos)

Diário do Desassossego (lido em noites marcantes)

do Nuno Bragança , Não me lembro do título, nem A noite e o riso, nem o Tolstoi Square, 24 horas de actividades conspirativas frenéticas

O que diz Molero, uma revelação

Depoimentos, do Mário Henriques Leiria (cartas de amor louco, imperdíveis, e que me desapareceram sen deixar rasto)

Os Cus de Judas (e os três livros seguintes, o maior espanto no pós 25 Novembro)

Mau tempo no canal (uma primeira edição em casa dos meus pais, que nunca tive pachorra para ler até aos dias do internamento no sótão)

(...)
Não publiques este paleio.
André Bonirre

23 novembro 2005

A escolha de Heitor

Agora que já toda a gente escolheu posso dizer os meus romances favoritos dos últimos trinta anos. Sei dois ou três dos livros que Lúcia escolheria. Um deles seria o diário de Maria Gabriela Llansol, tão pouco referida na votação de O Mal. Mas não sei se Lúcia apreciaria a minha indiscrição.
Aqui vão os meus.

Fora de Horas, Paulo Castilho,(Contexto, 1989)

A Mulher de Praga, Laura Gil (Quetzal 1997)

Juízo Perfeito, Julieta Monginho, (ASA, 1996)

A floresta em Bremerhaven, Olga Gonçalves

A explicação dos pássaros, António Lobo Antunes

Quarta feira




A Joana morreu no Outono de 2000. No Verão de 2002, quando pelas regras do luto a devia começar a esquecer, tive pela primeira vez saudades dela. Às quartas feiras ela fazia tratamentos no hospital de dia. Ia buscá-la ao fim da tarde. Ela devia ter náuseas e pouca vontade de falar. O café da avenida encerrava às quartas-feiras. Se não encerrasse tomávamos chá. Havia de lhe mostrar os livros do Duarte Belo com as paisagens da serra no degelo e estátuas cujas feições se apagam silenciosamente. Mas o café esteve sempre fechado, todas as quartas feiras que durou o tratamento. E era assim que continuava, dois anos depois. Via através dos vidros as cadeiras empilhadas para a limpeza do chão ser mais fácil e, contra todas as probabilidades, comecei a sofrer pela sua morte.

Católicos, mais um esforço ...

A ICAR vai aplicar métodos da moderna psicologia para detectar a orientação sexual dos seminaristas (diz a antena um). Dentro de anos, nos confessionários, teremos a garantia de ter do lado de lá, homens verdadeiros, umas réplicas de sotaina do senhor Miguel Sousa Tavares.

Bilhete de Identidade


A mulher do ano é Maria Filomena Mónica. E ainsa só vou na infãncia.

// andré bonirre

22 novembro 2005

Auto Estrada

Miguel Cardina de O Olho do Girino transferiu-se para a Estrada, que tem agora quatro vias.

Os Cinco Mais. Romance Português dos Últimos Trinta Anos

Memorial do Convento, José Saramago (11)
Para Sempre , Vergílio Ferreira (10)
Sinais de Fogo, Jorge de Sena (9)
Alexandra Alpha, José Cardoso Pires (8)
Lúcialima, Maria Velho da Costa (5)
Adeus, Princesa, Clara Pinto Correia (5)
O que diz Molero, Diniz Machado (5)

Os cus de Judas, António Lobo Antunes (4)
O Ano da Morte de Ricardo Reis, José Saramago (4)
Balada da Praia dos Cães, José Cardoso Pires (4)
Manual dos Inquisidores, António Lobo Antunes (4)

De Profundis, Valsa Lenta, José Cardoso Pires (3)
Um deus passeando na brisa da tarde, Mário de Carvalho (3)
O Esplendor de Portugal, António Lobo Antunes (3)
Um amor feliz, David Mourão-Ferreira (3)

Lilias Fraser, Hélia Correia (2)
Casas Pardas, Maria Velho da Costa (2)
Fado Alexandrino, António Lobo Antunes (2)
Auto dos danados, António Lobo Antunes (2)
A Ordem Natural das Coisas, António Lobo Antunes (2)
Levantado do Chão, José Saramago, (2)
O Evangelho Segundo Jesus Cristo, José Saramago (2)
Ensaio sobre a Cegueira, José Saramago (2)
Onde vais, drama-poesia?, Maria Gabriela Llansol (2)
Os Meninos de Oiro, Agustina Bessa-Luís (2)
Finisterra, Carlos de Oliveira (2)






Até ao Fim, Vergílio Ferreira
Em Nome da Terra, Vergílio Ferreira


O Concerto dos Flamengos, Agustina Bessa-Luís
O Susto, Agustina Bessa Luís

Missa in Albis, Maria Velho da Costa
Irene ou o Contrato Social, Maria Velho da Costa
Irene ou o Contrato Social, Maria Velho da Costa

A Noite e o Riso, Nuno Bragança (editado em 1969 só seria conhecido do grande público depois de 1974)
Square Tolstoi, Nuno Bragança

Caos, Ruben A.

Memória de Elefante, António Lobo Antunes
A explicação dos pássaros, António Lobo Antunes
Conhecimento do Inferno, António Lobo Antunes

A Morte de Carlos Gardel

Portuguex, Armando Silva Carvalho

O Anjo Ancorado, José Cardoso Pires



Pode um desejo imenso, Frederico Lourenço
Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra, Mia Couto
O pequeno mundo, Luísa Costa Gomes
Campo de Sangue, Dulce Maria Cardoso
Fantasia para dois Coronéis e uma Piscina, Mário de Carvalho
O Vale da Paixão, Lídia Jorge
Noiva Judia, Pedro Paixão
Nenhum olhar, José Luís Peixoto
Este é o meu corpo, Filipa Melo
Coca-Cola Killer, António Victorino d’Almeida
Gente Feliz com Lágrimas, João de Melo
Baía dos Tigres, Pedro Rosa Mendes
Instrução dos Amantes, Inês Pedrosa
O pranto de Lúcifer, Rosa Lobato Faria
Claustro do Silêncio, Luís Rosa
Os comedores de pérolas, João Aguiar
A sala das perguntas, Fernando Campos
Equador, Miguel Sousa Tavares
Jerusalém, Gonçalo M. Tavares
O Amor é Fodido, Miguel Esteves Cardoso
Cão como Nós , Manuel Alegre
Vale da Paixão, Lídia Jorge,
Fazes-me falta, Inês Pedrosa.
Notícias da Cidade Silvestre, Lídia Jorge






A partir das escolhas dos leitores de A Natureza do Mal, nos comentários ou nos blogs que pudemos ler. Com agradecimentos ao Eduardo Pitta, Da literatura, Carlos Azevedo, The catscats, Saxesaxe, Elisa, Lebre, isabel , jd, Xico Corrêa, rui_fernandes, jpt, Amélia Pais , housewife, Margarida Vale de Gato, Sarah, hmbf, carla de elsinore, xana, Francisco Trigo de Abreu ,Cris , nana, Henrique Carmona da Mota , www.underbararesa.blogspot.com/, marta m, Raquel, monica ,IO , Ana Gomes Ferreira, Asensio ,Francisco José Viegas, Lídia Pereira .Solvstag, que jamais será esquecido.Alguns anónimos utilizaram o mail do Mal. A Ana Clotilde também mandou mail. O Pedro Mexia fez um post no Estado Civil "quando se apercebeu da votação que decorria em alguns blogs".
Entre parênteses, como curiosidade, o número de citações.
Foram retirados os livros de poesia nomeados.


Mau Tempo no Canal, Vitorino Nemésio (7)
e
Aparição, Vergílio Ferreira(5) ,
que seriam duas das nossas escolhas, são claramente romances de uma outra época, tal como Esteiros, Soeiro Pereira Gomes (1)e A Paixão, Almeida Faria (1). Não sabemos o que fazer a
O Livro do Desassossego, Bernardo Soares (4).

(Actualizado a 24/11)

A Máscara


Autor: PC (o nosso)

// andré bonirre

Maria Filomena Mónica



A mulher do ano é Maria Filomena Mónica. E ainda só vou na Avó Maria.

As cartas de amor de António Lobo Antunes





Escritas por um jovem médico na fronteira do império mais miserável da história colonial europeia, as cartas foram editadas pelas filhas após a morte da mãe, que as guardou. Compreende-se a emoção, que é contagiante, e o orgulho. O escritor ainda não as releu, embora tenha apoiado o lançamento, de uma forma que só faz aumentar a estima dos admiradores entre os quais, por motivos históricos, me conto. A Memória do Elefante, a Explicação dos Pássaros e Os Cus de Judas foram talvez os livros mais importantes daqueles anos da minha vida, pela novidade da escrita e dos temas, pela personalidade do escritor que através delas se afirmava, irónico, desiludido, pelo efeito de proximidade à geração que naquela altura chegara à idade de trabalhar e se apercebia de que a festa terminara.
O escritor que ele se sabia está nas cartas de amor. E não é difícil de perceber que o material de que foram feitos os livros referidos foram aqueles anos de 1971 a 73, em que repetia à sua jóia querida que gostava tudo de ti e anunciava a escrita fatal onde se cumpriria o seu destino literário. Que nos livros do final da década esse amor fosse só uma ferida, não espanta aos cínicos que sabem que ele só é imortal enquanto dura. Um livro triste, se nos lembrarmos que provavelmente hoje ainda, homens que julgam ter um destino literário, escrevem cartas, provavelmente mails, a mulheres que provavelmente os acreditam.
Um livro que talvez interesse aos biógrafos de António Lobo Antunes, aos estudos literários e à memória da guerra colonial .

21 novembro 2005

Livros nos sapatinhos


Autor: Filipa Bonirre

// andré bonirre

Ana Sousa Dias

Ana Sousa Dias é uma boa pessoa e foi injusto e desadequado o que aqui em tempos se escreveu dela. Como todos, Ana tem a sua cruz e a cruz da Ana chama-se Marcelo. A minha chama-se Matos e dra. Filomena, duas cruzes em uma. Sabendo isto, como pude, num passado de que não me orgulho, ter sido cúmplice de apreciações levianas?

18 novembro 2005

Conversão na A1

" "

// andré bonirre

Conversão em Aveiras

Ensinaste-me a trindade
e os santos óleos
o olho glabro
o esforço dos monges
carregando o aristóteles
E que a tua matéria
é a areia e o vento
e a espuma que às vezes
vem do mar.
Deste-me um são leonardo
no ventre da baleia
E agora que me tens de joelhos
não é esta a capela
em que Apareces.

Em passos de dança


Autor: Filipa V.

// andré bonirre

17 novembro 2005

Absolutamente imperdível

O que N. acha dele.

Estefânia de Hohenzollern, uma princesa



Esta é a jovem princesa Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen (nasceu em Dresden, a 15 de Julho de 1837, e morreu em 17 de Julho de 1859). Há 127 anos o seu exemplo inspirou um Hospital para crianças. Que essa inspiração não tenha quase nunca existido nos 127 desgraçados anos que se seguiram é coisa que não espantaria à menina que escreveu, numa carta à mãe:
"Os portugueses têm o sentido do luxo e da pompa, mas não o da dignidade".

Saudades

Não houve apenas 24 comentários ao post sobre o tempo em que ainda havia esperança de virmos a ser outra coisa. Antes, muito antes, da civilização ocidental e das colisões que as sucessivas mundializações propiciaram. Algumas pessoas escreveram para o mail do blog e entre eles alguém que assinou Maia. Maia disse que o meu post “reflectia a saudade do Éden”. Absolutamente. De que outra coisa poderíamos ter saudades?

Sobre sobre Lúcia



O que o dr L. anda a escrever sobre Lúcia em Strasbourg envergonha-me. Talvez ele não tenha encontrado ninguém em Strasbourg. Talvez Lúcia tenha enviado uma amiga à Estação de Autocarros. As mulheres fazem coisas destas, já ouvi dizer. Também o dr. L. ia em meu lugar, eu sei, embora tenha insistido para que as coisas se fizessem com correcção. Lúcia aceitou a visita, mas mandou a amiga. Ou hesitou e a companheira de apartamento tomou o seu lugar. A minha Lúcia, a mulher que eu conheci, era uma mulher a sério. Não tinha táctica. Não sabia gerir silêncios. Talvez pensasse que não devia dizer tudo o que sentia. Mas dizia. Tinha uma divisa: Eu não tremerei face ao amor. Ouvi-a dizer isto, baixinho, no saguão da casa de Nelas, enquanto ao lado a mãe dormia. Fui eu que tremi. Nunca tive divisa. Nunca prometi nada a não ser cumprir com lealdade as tarefas que me são cometidas. Mas nunca me cometeram nenhuma tarefa transcendente. Apear os excedentários, pô-los na prateleira, retirar-lhes as funções que podiam exercer com algum brilho, eficácia e auto satisfação. Até se sentirem merda e aceitarem as propostas da administração. Sem raiva nem animosidade. Sem gabinete nem secretária. Sem computador nem solidariedades. Quebrados, como os presos depois de algum tempo de solidão e abandono. É o meu trabalho dos últimos anos. O trabalho que alguém teria de fazer para os Correios poderem prosseguir os seus altos desígnios. Calhou-me a mim. Não me calhou estar à altura do amor de Lúcia. Do amor total, sem reticências, nem cláusulas especiais. Era muito cedo. Ou tarde demais. Se ainda ao menos o tempo tivesse parado naquele saguão. Ou no ringue do palácio de gelo.

Os melhores romances do "Portugal de Abril" foram em Março



Estou de acordo com Solvstag, agora como quase sempre. Dos romaces portugueses(que li) dos últimos trinta anos, os melhores talvez sejam Aparição (1959), Sinais de Fogo (publicado póstumamente em 1979 mas escrito talvez no perincípio dos anos 60) e Mau Tempo no Canal (1944).

16 novembro 2005


// andré bonirre

Oito Horas

De manhã, no caminho dos Correios, passo pelas crianças que vão para as aulas às oito horas e trazem os pais no banco da frente. Na esplanada dos cafés estão os mesmos de sempre, a fumar o primeiro cigarro da manhã, a ler os jornais desportivos com esforço e dedicação. Depois cumprimento um técnico do laboratório de análises. Vejo as ajudantes de cabeleireira, o gang de arrumadores a dividir o território, os estudantes a começar um after hours. O rio de carros passa ao lado, caudaloso, ou rosna na passadeira. Vejo um batalhão de empregadas domésticas a sair do autocarro da periferia e a caminhar em formação para a rua G. E já perto da estação dos Correios a dra. Filomena entra no parque e o Matos está atrás da montra a espreitar. Maldito hábito que o Matos tem de abrir a Estação antes da hora. Sem nenhum pressentimento que me prepare para o embate encontro a mulher que talvez fosse florista. Nunca a vi de tão perto. Tinha-me esquecido dela. A noite não lhe foi propícia. Talvez os olhos se lhe adocem com a manhã. Diz-me olá, sem som, com um sorriso que não sobrevive ao cruzamento. Nenhum estremecimento. É o que acontece às mulheres que saem da ficção.

15 novembro 2005

Cinco romances dos últimos trinta anos




Vá lá. Não custa nada. Escrevam aqui, ou no vosso blog, os cinco melhores romances de escritores portugueses, escritos em Português, nos últimos trinta anos.

À atenção dos bloggers desalinhados

Atenção bloggers desalinhados. A polícia pode entrar-vos em casa, e em casa dos vossos pais para levar o PC (ver Público de hoje). Aconselho-vos a usar portáteis e cumprir regras elementares de clandestinidade. Fazer sempre delete e engulir as pens em caso de prisão eminente.

Na blogosfera (2)

O segundo aniversário do blog de Lutz Bruckelmann. Parabéns Lutz e que nunca escrevas mesmo em Português.
Aproveitem para ver como se faz um liberal de esquerda.

Na blogosfera (1)

Bruno, que nos lembra que nos momentos importantes estamos sempre sós.

Rui Marques


No debate dos últimos dias uma voz diferente apareceu, suficientemente límpida para se distinguir da vozearia dos comentadores do costume: a do Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, Rui Marques.

Officium



Des oiseaux qui se nourrissent de poissons; leurs excréments sont le commencement d'une oasis que les hommes peuvent habiter, jusqu'à ce qu'une prochaine coulée de lave étouffe tout.

Primo Tempore

C'est dans la cathédrale de Séville, au début des années soixante-dix, que j'ai entendu pour la première fois l' Officium Defunctorum de Morales. Quand je l'ai de nouveau entendu, vingt ans plus tard, lors d'une balade en voiture à travers des champs de lave fendus de crevasses, en Islande, il m'a procuré une émotion plus durable. C'était au moment où je travaillais au tournage du film Holozän, d'après le récit de Max Frisch, L'Homme apparaît au Quaternaire.

Le ciel comme de la cendre ou du plomb. Le film avec Erland Josephson dans le rôle de Herr Geiser traite, comme son modèle, de la tragédie du vieillissement, de la solitude et de la peur de perdre la mémoire. Herr Geiser, qui vit seul dans une vallée retirée, se retrouve coupé du monde extérieur par une violente tempête. Au millieu de cet isolement, les souvenirs que Geiser a gardés des paysages préhistoriques de l'Islande deviennent, dans le film, la métaphore du mutisme dont est frappée une humanité qui est arrivée au bout de son histoire. Que signifie holocène! La nature n'a pas besoin de noms. Herr Geiser le sait. Les rochers n'ont pas besoin de sa mémoire.

La luminosité du son, la nuit devant les yeux.
En Islande, pendant que je travaillais sur le film, j'ai écouté à tour de rôle les Répons deTénèbres de Gesualdo et le chant du saxophoniste Jan Garbarek. Morales m'a fait soudain l'effet d'une terre du sud, au-dessus de laquelle l'oiseau migrateur du Nord décrit de vastes cercles. Devant la mer couleur de basalte.
Comme je ne pouvais plus concilier l'intensité des sons avec la figure de Geiser, je me suis décidé ensuite pour une autre musique.

Mais il restait: l'idée.
Et c'est ainsi que cette musique est née.

(Manfred Eicher, à propos de Officium , Jan Garbarek e The Hilliard Ensemble, ECM)

//andré bonirre

14 novembro 2005

Os cinco romances. Inquérito

Babelia pediu a escritores e críticos espanhóis que escolhessem os cinco melhores romances do pós-franquismo. A trilogia de Vila-Matas sobre a patologia da escrita ( Bartleby e Cª, O Mal de Montano e Doutor Pasavento) teve mais de uma citação. Destaque igualmente para Javier Marias ( nomeadas Coração tão branco e Tu rostro manãna: I fiebre y II lanza ). O meu Javier Marias é Todas as Almas, publicado na Quetzal e depois reeditado na Dom Quixote em 2002 .
Quais foram os cinco romances portugueses mais importantes dos últimos trinta anos?

Notícias do Apocalipse com mensagem de esperança


Eu acredito que há alguma coisa de verdadeiro na análise de Immanuel Wallerstein sobre o desmoronamento do actual sistema-mundo (já não há mais locais para deslocalizar as empresas, a consciência ambiental das populações diminuiu os lucros, as energias fósseis estão-se a esgotar mais rapidamente do que pareciam). A globalização iniciada em 1490 vive os seus últimos e dolorosos anos. Pode ser que esses anos pareçam muito longos. Pode ser que, por uma questão de escala, não consigamos perceber o sentido geral desse movimento. Talvez não haja saída. Ou emirja, gerado pelos mesmos que neste sistema detêm o poder e os privilégios, um sistema tão injusto como este. Nenhum dado está lançado. A violência da invasão do Iraque e da presença aliada no Iraque é um capítulo da reorganização dos poderosos que beneficiam com o actual sistema-mundo. O fogo nas ruas de Paris é um sinal do caos destes anos finais. Eu não me revejo na violência, nem numa nem noutra, detesto a violência e queria estar longe dela. Mas nenhuma polícia nem exército me defende, porque as polícias e os exércitos estão a mando da iniquidade. Falam do direito e do estado de direito. Mas mudam as leis quando lhes apetece. Interpretam-na a seu prazer. Têm gente treinada para isso, a quem não interessa o apuramento da verdade mas os interesses e o dinheiro do cliente. Isto soa muito radical. Mas só os mal informados, ou os muito jovens, ou os beneficiários falam hoje o discurso do consenso.
Crescemos demais. Isto não devia ter sido assim. Estávamos bem em grupos de quarenta, a caçar e a apanhar os frutos das árvores. A dormir juntos em volta da fogueira, a caminhar na direcção dos bisontes, desenhar nas grutas, ver crescer juntas as crianças. As mulheres envelheciam terrivelmente, eu sei. Mas não todas. Nem sempre. Não havia agricultura nem animais domésticos. Leite só o das mães. Quase todas as doenças menos as da senilidade. Os nossos chefes tinham que dar provas. Quando fraquejavam, nós continuávamos para os prados da primavera. Tínhamos fome, frio, medo, sono, sede. Nas pontas dos dedos os homens traziam o cheiro das mulheres e viviam em permanente estado de necessidade. Estes são os valores. O resto é ideologia, religião, direito. Tudo formas para justificar o privilégio. Falo de um tempo em que ainda não éramos tantos. Os que souberem do que falo serão os mais bem preparados para os tempos que hão-de vir. Entretanto divirtam-se a discutir o Tribunal da Relação. Eram só três homens, porra. Funcionários públicos entre duas greves, aflitos com o colesterol e a integração na assistência à doença dos servidores do Estado. Aflitos com a ideia de, no fim do Acórdão, terem de repetir 7-8-4-5 ou perder a aposta.

(para o CBS e para a Zazie, meus amigos)

Magrite


Autor: Grupo de Trabalho ALF, Porto

// andré bonirre

11 novembro 2005


// andré bonirre

Os conselheiros

Um país

Os conselheiros da Relação acham, sem apelo, que um processo relativo a crimes “dos quais não se duvida terem existido” “ não deve ser levado a audiência” por ser” improvável que nela se venha a obter a condenação do arguido”, “não ser provável a futura condenação do acusado nem esta é mais provável que a absolvição”.
Os conselheiros da Relação "relativizaram”(ler anularam) o testemunho das vítimas “em princípio muito comprometedoras para o acusado, dada a soma de pormenores e a reiteração das imputações” , “ num caso por o jovem ter “dificuldade em reter sequências de mais de três algarismos,”no que diz respeito a outros jovens por terem “flutuações e hesitações”, em outros ainda por terem “personalidades limites”. Tudo baseado em peritagens que se espera não terem sido fornecidas pela defesa.

Os semi-cidadãos com dificuldades em reter sequências de mais de três algarismos, com personalidades flutuantes, hesitações ou personalidades que os peritos classifiquem de “limite" que se cuidem(gostava de conhecer os nomes e as credenciais dos peritos e se estes peritos já foram objecto de perícia)” .


(ler no “Público “ de 10 de Novembro, não existente on line)

Super Sarkozy Pereira

Pacheco Pereira (um super Sarkozy) acha que a defesa dos nossos valores civilizacionais só pode ser mantida com a intransigência na defesa da lei e do direito. Mas os nossos valores civilizacionais (da civilização greco-latina trazida pelo cristianismo) não assentam apenas na lei e no direito. Assentam na restrição dos direitos aos ricos e poderosos, na legitimação do poder da plutocracia pela elite religiosa e cultural, no controle dos media, na violência dos tribunais, das polícias e do exército.
Pacheco ridiculariza a reflexão sociológica sobre a “revolta dos jovens” ( para Pacheco não são jovens, são gentalha a quem nem revolta e consentida ). E contrapõe-lhe a sua reflexão sociológica que, espante-se, não acrescenta nada à “reflexão de pacotilha”, se exceptuarmos o ódio incrível ao “estado que subsidia” e a referência a que os desempregados não querem trabalhar.(cartilha da Matos).
Pacheco Pereira pertence a uma geração e a uma família política que está no poder, em Portugal e na Europa, há trinta anos. Conhece todos os corredores do mando, de Lisboa a Strasbourg. Quando fala do Estado que subsidia sabe do que fala. Há-de ter alguma responsabilidade, ele e os seus amigos, camaradas e correligionários na incapacidade de contrariar, com o modelo económico agonizante que continua a defender, os devastadores efeitos sociais a que assistimos.
Que queira mais Sarkozy eis o que é preocupante. Diz que “estamos velhos e que temos medo”. Mas não acreditem. Nem ele está velho, nem tem medo, nem nós somos o nós de Pacheco. Ele não tem medo. Quer que tenhamos medo para substituir a análise sociológica pelo apelo irracional à lei e à ordem, a forma mais clássica de ocultar a injustiça económica. Quer que tenhamos medo para aprovar mais leis que excluam, para que ardam mais carros, para que haja mais gente no partido do medo, para os negócios continuarem a prosperar.

10 novembro 2005


// andré bonirre

09 novembro 2005

Nocturno em Vevey



De Montreux a Morges de manhã
Vendo as poças da neve derretida
E ao fundo brilhando o Gonfersee
Ao passar em Vevey era seguro
Que mais que a estação te visse a ti.
Ela então :
e se eu fosse ouvir isso no teu colo


De Morges para Montreux ao fim do dia
Depois de comer à pressa o chocolate
O Casino fechado os altos muros
Ao passar em Vevey sempre voltavas
Amor tão constante que durava
A ida e volta de um outono assim
Ela então :
Se me beijasses eu acreditava

(créditos para T.S.Eliot e o Alemão)

Autor: Hugo
// andré bonirre

08 novembro 2005

A tarde do Olho do Girino



Boa sorte, Miguel.

Aviso


Avisam-se os leitores que este blog é radical, contra a ordem vigente. Não acredita no Povo nem que duma abstração deste tipo possa emanar qualquer autoridade legítima. Acha que o sistema político actual(governo, partidos políticos da alternância com as maiorias parlamentares que os suportam, Presidente da República, anestesistas de serviço) sustenta a plutocracia. Não confia na Justiça nem nos Tribunais. Acha que a polícia é boa para dar porrada nos suspeitos do costume.
Este blog sobrevive porque acredita em algumas pessoas e na maior parte dos animais. Sobretudo se viajam de comboio, ou andam a pé, ou espreitam as salamandras, ou acreditam em deus apesar da ICAR, ou dançam quando as companhias são extintas, ou se demitem se não podem cumprir programas, ou escrevem contra a corrente vencedora, ou fotografam o quarto em que foram abandonadas, ou simplesmente são.


(foto e inspiração no Alcatruz)

Autor: Mané

// andré bonirre

07 novembro 2005

Sarkozy, la rascaille c’est lui!


Os jovens magrebinos e negros da ex colónias da terceira geração que estão a incendiar França, la rascaille de Sarkozy ( a canalha) , não têm programa, nem organização, nem líderes, nem modelos conhecidos. Os cenários repetem os de 1968, com mais pirotecnia e os mesmos CRS, um episódio da grande revolução mundial que, se estão recordados, varreu o mundo desde os campus norte- americanos ao extremo oriente e que teve as suas sequelas tardias no fim das ditaduras ibéricas e na instauração da democracia. La chienlit, disse na altura o general de Gaulle.



O que se está a passar tinha sido previsto. Lembrem-se de La haine de Mathieu Kasowitz, dos sucessivos avisos das pessoas que trabalham junto dessas comunidades, sociólogos, assistentes sociais, políticos, religiosos. Se a França responder com o programa dos Sarkozy- mais polícia, mais justiça cega e mais promessas de integração- vamos todos perder. Os ingredientes da revolta francesa estão em quase todas as cidades da Europa. Quantos pivots negros temos nas nossas televisões? Quantos analistas? Quantos actores de novela? Quantos professores? Quantos presidentes de junta, vereadores,membros das assembleias municipais? deputados? Quantos cantores de sucesso? Quantos filhos de emigrantes há nas Comissões de Honra?