16 novembro 2005

Oito Horas

De manhã, no caminho dos Correios, passo pelas crianças que vão para as aulas às oito horas e trazem os pais no banco da frente. Na esplanada dos cafés estão os mesmos de sempre, a fumar o primeiro cigarro da manhã, a ler os jornais desportivos com esforço e dedicação. Depois cumprimento um técnico do laboratório de análises. Vejo as ajudantes de cabeleireira, o gang de arrumadores a dividir o território, os estudantes a começar um after hours. O rio de carros passa ao lado, caudaloso, ou rosna na passadeira. Vejo um batalhão de empregadas domésticas a sair do autocarro da periferia e a caminhar em formação para a rua G. E já perto da estação dos Correios a dra. Filomena entra no parque e o Matos está atrás da montra a espreitar. Maldito hábito que o Matos tem de abrir a Estação antes da hora. Sem nenhum pressentimento que me prepare para o embate encontro a mulher que talvez fosse florista. Nunca a vi de tão perto. Tinha-me esquecido dela. A noite não lhe foi propícia. Talvez os olhos se lhe adocem com a manhã. Diz-me olá, sem som, com um sorriso que não sobrevive ao cruzamento. Nenhum estremecimento. É o que acontece às mulheres que saem da ficção.

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