15 setembro 2005

Privatizar o Governo

Um amigo contou-me que, há uns anos, trabalhando no ministério da D. fez parte da equipa ministerial encarregada de discutir com a Empresa M. um contrato de aluguer de serviços. Do lado da Empresa M. estava um ex-ministro, conhecido pela capacidade combativa e pelos dotes histriónicos, que oscilavam entre a afabilidade e a rudeza. Do lado do ministério um grupo de jovens com instruções tíbias. O contrato permitiu que a Empresa M. recuperasse da sua situação financeira. Os benefícios do serviço alugado nunca foram objecto de avaliação independente.
Agora leio que António Vitorino foi contratado para integrar a representação de um ministério numa negociação bem mais importante que a que refiro. Trata-se de um progresso evidente. Vitorino teve a passadeira estendida para vir tomar conta do PS e do governo mas tinha outros desígnios. Aconselhar os investidores espanhóis através de um gabinete privado. A importância de Vitorino advém-lhe das suas capacidades naturais e do imenso capital de conhecimentos e relações humanas que adquiriu enquanto Comissário europeu, um cargo da burocracia da União pago pelos contribuintes europeus. Que ele tenha decidido pôr os seus dotes ao serviço de um Escritório de advogados é um assunto pessoal que só ao próprio diz respeito. Mas a solução encontrada afigura-se-me boa. O Prof. Gonçalves Pereira queixava-se, quando era ministro, de que não ganhava para os charutos. Agora o governo pode, sempre que uma questão verdadeiramente importante de Negócios Estrangeiros estiver em causa, alugar o Prof. André Gonçalves Pereira e pagar os seus serviços de forma adequada.

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