05 setembro 2005

Na Galícia ( lembrando Lwow)


Parámos nas aldeias. Procurava a praça : a câmara, o café, a farmácia. Não bem aquelas. Se houvesse não seria capaz de as reconhecer. Ninguém fala nenhuma das minhas línguas . Depois chegámos a Lviv. Não há nenhum judeu em Lviv. Os polacos foram mortos pelos alemães, pelos ucranianos e pelos russos. Em Lviv, muito saudavelmente, ninguém quer falar disso. Em 12 de Setembro de 1939 Lviv chamava-se Lwów quando as tropas nazis cercaram a cidade. A batalha durou dez dias mas foram dias que não mudaram o mundo. A 19 de Setembro, quando os polacos ainda resistiam, chegou o 6º exército do Exército Vermelho que substituiu as posições alemãs. Os generais polacos Langner e Sirkowski decidiram render-se aos soviéticos depois de uma negociação cujos termos foram aceites: entre outros pontos, os oficiais polacos podiam deixar a cidade para qualquer outro país e levar consigo os seus bens. Ao fim da manhã de 22 de Setembro a rendição foi assinada. Nessa noite a NKVD prendeu os responsáveis polacos, enviou-os para Tarnopol e daí para vários gulags, entre eles o campo de Starolbiesk perto de Kharkhov de onde alguns foram levados para o massacre da floresta de Katyn. Entre eles estava Sirkowski. Em 22 de Junho de 1941, com o pacto germano-soviético enterrado, os alemães entraram em Lwow. A NKVD procedeu a execuções durante toda a semana que precedeu a derrota soviética. Os nazis criaram o gueto de Lwow, procederam à evacuação em massa dos judeus para os campos de extermínio e praticaram fuzilamentos durante toda a ocupação, especialmente dirigidos contra os professores e membros da intelligentsia polaca. Em 23 de Julho de 1944, com o Exército Vermelho por perto, tropas polacas reconquistaram Lwow. Foram convocadas pelo comando soviético e os seus oficiais presos ou incorporados.

Num banco de uma praça que os doentes do século vinte não distinguem das outras praças da Galicia pois tudo lhes parece outra coisa e coisa nenhuma, um homem chamado Andrzej Żuławski contou-me histórias desses tempos. Mas verdadeiramente do que ele me queria falar era de Sophie Marceau, e nisso nos entretivemos o resto da tarde.

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