18 julho 2005

O tempo

O tempo não existe. Acho que já uma vez aqui tentei demonstrar essa evidência, pelos vistos sem resultado. O tempo passado não existe a não ser na memória dos seres com memória. De uma coisa que só existe na memória não se pode, verdadeiramente, dizer que exista. O tempo futuro, esse, seguramente não tem, até acontecer, nenhuma forma de existência material, que virá a verificar-se ou não. Se algo parece pacífico hoje, é essa impossibilidade em prever o tempo que virá. Resta-nos o presente. Mas se nos detivermos um pouco sobre este assunto, facilmente percebemos que quando tentamos capturar o momento presente, ele escapa-se como a sombra ao néscio, e se alguma coisa agarramos é o passado. Podemos decompô-lo sucessivamente. Mas mesmo esse instante que é um relâmpago, um estampido, um estremecimento da mente, quando o analisamos já não está presente, ou apenas como o mostrador de um relógio fuzilado. Esta reflexão parece-me tão difícil de rebater, tão independente de outra coisa que não seja o deslizar livre do pensamento, que seguramente já ocorreu a muitos homens, filósofos ou não.
Quando percebi que o tempo não existia, o mundo material deixou de fazer sentido. Se as tragédias só existem verdadeiramente na fracção milionésima em que podem ser algo mais que passado, então mesmo as nossas penas são suportáveis.

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