05 maio 2005

Lúcia e o sexo (2)



Quando se despediram em Nelas ficou a vê-la entrar em casa tentando sentir mais que uma vontade enorme de voltar à Estrada da Beira, à sua cidade. Depois pensou que era angústia, aquela urgência de nada. Ao sair do carro, já junto ao passeio, ela rodou o corpo, sem chegar a virar-se. Esse movimento enterneceu-o. Talvez a coisa desagradável que se apoderou dele seja afinal o desgosto de partir. Saíu do carro, caminhou para ela:
–Estou angustiado por te deixar, ouve-se a dizer.
Podemos saber se estamos apaixonados se nos ouvirmos a dizer coisas assim e elas soarem bem. É um critério estético. Alguma certeza deve existir e a congruência estética é um bom critério de verdade. Se a cena não lembrar uma peça de teatro universitário a probabilidade de não nos enganarmos é grande. Desta vez pareceu-lhe bonito e verdadeiro.
Lúcia respondeu:- Tolice tua. Não me veres não te faz falta nenhuma.
Sentiu-se culpado, mentiroso, ridículo.

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