21 outubro 2004

Flores (1)

Os correios como os médicos vão de porta em porta. Agora de porta em porta só as entregas de pizzas, as testemunhas de Jeová e os candidatos a lugares públicos. Mas é tão raro. Eu hoje fui de porta em porta e era madrugada, a luz ainda se coava nos telhados, uma neblina embrulhava tudo. Caminhava sem ruído. E vi-te sair, à hora em que pensava que dormias. É tão cedo, gritei. Dorme um pouco, gritei. Mas a voz calava, como os passos. E tu, talvez florista, caminhaste sonâmbula. Depois viraste-te e levantaste a mão. Era para um carro preto que te abriu a porta mais à frente. Passou muito perto de mim. Ainda tenho o braço levantado e a lama na cara.

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