26 setembro 2004

Outras Leituras

Dei uma volta com algum tempo nos meus blogs. Foi esta madrugada. Por respeito para com a escrita nocturna de alguns e de algumas. Eu sei que isto não é vida. Bem gostava de seguir o conselho da ninfa: “Get a life”. Mas não consigo. Primeiro porque acho que sou um pré-rafaelita. Depois porque a língua italiana me é simultaneamente próxima e distante. Ao ouvi-la parece-me estar no limbo da compreensão, numa agradável sala pré-anestésica. Mas o núcleo da coisa escapa-me. Não me queixo, até é bom, se não houver avaliação final.
Tinha andado nas ruas. Tanto calor, não estava? Reparei no imenso sucesso do meme que como um vírus segreda ao cérebro das mulheres: “Deves usar cuecas fio-dental”. Paradoxalmente a minha admiração desviou-se para as mulheres que lhe conseguem resistir. Pensei: se é verdade que o corpo das mulheres foi desenhado pelos homens o meme, “Deves usar cuecas fio-dental”, é um meme masculino. E os seus efeitos são agradáveis, quase sempre. Mas intelectualmente estou com a capacidade de resistência das que não se deixaram infectar.
Não se confunda esta minha opinião com qualquer tolerância relativamente às cuecas de gola alta ou meia perna. Uma vez, antes do pensamento único, estava de visita a um país do socialismo real. E vi umas montras horríveis, com uma exibição de cuecas deste tipo. Panos informes, elásticos à mostra, tendência para XL à primeira lavagem. Pensei que as mulheres que usavam aquelas coisas deviam ser muito infelizes, sobretudo se não tinham outras escolhas. E que era impossível aquele país ter mulheres no poder. Nenhuma mulher, mesmo antes do meme “Deves usar cuecas fio-dental” ter sido inventado, escolheria um modelo daqueles para o plano quinquenal. Esta descoberta enfraqueceu muito a minha militância comunista.

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