06 setembro 2004

Breve

Eu hoje queria uma escrita saudável. Qualquer coisa de uma ironia leve como O'Neill ou os surrealistas primeiros, ou Benjamim no tempo de Nadja e do Temps de Paris, ou David Lodge a descrever o cientista que apalpa o rabo da colega na cozinha. Uma escrita antes da doença, antes da prevenção, antes da imaculada concepção. Uma escrita antes do pecado e da culpa. Uma escrita leve como o movimento da águia, quando desfaz o círculo para ficar suspensa, e o Bonirre diz, lá do fundo da sua sabedoria das aves: Está-nos a ver. Uma escrita sem vírgulas nem hífens nem pontos de exclamação. Qualquer coisa de espumoso e matinal, uma pequena hesitação da escrita, o começo de uma música, o sorriso com que as criaturas acordam no primeiro dia de escola, a pele fresquinha deles quando os beijamos.

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