14 agosto 2004

Cienfuegos

Desde ontem passámos a dormir em camas separadas, separada a cama, separada a noite, separada a temperatura, é melhor assim que aqui nem à noite se arrefece. Vamos até Cienfuegos amanhã ou depois, em busca da invenção de um novo som. Sempre pensei que fosse ela a deixar-me ir, certamente por não lhe bastar a minha falta de excessos. Vejo agora que sou eu que primeiro fico pronto para a largada, certamente pelo excesso de novidades dela. A viagem deve demorar quatro horas, vou arriscar a descoberta de um novo entendimento, vejo os olhos dela que brilham nos meus e tenho medo que se apaguem de vez. Costumo guardar o melhor bocado para o fim, acreditando em manter o crescendo e eliminando a incerteza do caminho. A Rosete, como todas as mulheres, gosta de ter o melhor bocado logo no início, não entende para quê esperar. Escolhi a música para a viagem, não arrisco e começei pela preferida da Rosete, e ainda dizem que burro velho não aprende, não sei o que se passará depois de jogar este trunfo único mas devo confiar em ficar na mão dela. Um leve agitar das pernas debaixo da saia, o sentar de modo mais confortável e relaxado disse-me que ía bem. O maior arco-íris que já vi, de meia-volta completa, assegurou-me do sentido certo. Tentei fechar os olhos e dormir para que nenhuma outra sensação poluísse a memória. O dia acabou maravilhoso. À chegada ao hotel ela disse, visivelmente bem disposta, pareces uma mofeta, ri-me a custo. Fiquei meio emburrado, é isto, juro que não entendo, aparece-me docemente apaixonada em sonhos mas procura mudar todos os pequenos tiques que trago, e eu não cheiro mal. Assim é melhor, separadas as camas, separada a temperatura, separados os sonhos.

Jammes (tafetátafetátafetá)

PC

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial