17 agosto 2004

Armas e munições

Cheguei a Riga para fazer uma visita a uma amiga. A casa dela, a cidade, a língua eram-me desconhecidas. Ninguém me esperava, ninguém me conhecia. Andei duas horas sozinho pelas ruas. Nunca tornei a vê-las assim. Cada porta lançava uma língua de chama, cada esquina espargia centelhas, e cada eléctrico surgia como se fosse um carro de bombeiros. Ela bem podia sair do portal, dobrar a esquina ou estar sentada no eléctrico. Mas, de nós os dois, eu teria a todo o custo de ser o primeiro a ver o outro. Porque se ela tivesse lançado sobre mim a mecha do seu olhar- eu explodiria necessariamente como um depósito de munições.

Walter Benjamim

In Rua de Sentido Único(o blog de Walter Benjamim). Na Relógio D’Àgua, 1992 (com excelente introdução de Susan Sontag).

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