21 julho 2004

Rosete quando se não espera

Ontem ela veio, a Rosete. Tenho visto que as mulheres vêm geralmente quando as não esperamos. Vêm silenciosas ao fim de tarde. Vêm de manhã, no caminho da venda. Na hora do calor, com o sacho ao ombro. Se queremos que venham não devemos esperar por elas. É uma coisa fácil de fazer, desde que se perceba e tenha tempo. Eu agora tenho tempo para esperar o que não espero. E foi assim que vi chegar a Rosete ao toque distante das vésperas. Trazia uma saia curta, muito curta, de viscose prateado eléctrico. E uma blusa de tiras. Uma tira de tecido, outra da sua pele acetinada. Aproximou-se do muro e disse-me uma palavra sussurrada. Fingi não ouvir, mas não era o meu nome. O meu nome é Jammes, assim me chamam por aqui. Ela chamou-me diabo, mas não posso jurar porque foi só um nome sussurrado. Fui ter com ela. Queria dar um passeio até à cumeada, onde se vê, lá em baixo, longe, o terreiro das festas do Verão. Abaixei-me para ela e a Rosete montou-me à amazona. Era a primeira vez e caminhei devagar, levantando bem as patas, sacudindo-as levemente a cada passo. Não devia mostrar qualquer perturbação. Também isto sei fazer. Ela mexia-se ao sabor da minha ondulação e eu sentia a tensão da viscose e depois a doçura da perna dela ao longo do meu flanco. Cimeiro ao vale parei. Ela segurou o meu pescoço e montou-me à cavaleiro, uma perna para cada lado, com pressão dos joelhos. Fiquei imóvel, todos os corpúsculos que em mim sentem se tinham deslocado para o dorso. Sabia que qualquer coisa iria acontecer e que não devia mexer-me. Então a Rosete debruçou-se sobre o meu pescoço e deitou a face naquele espaço que tenho entre as orelhas. E disse outra vez, muitas vezes, o meu nome.

sent by Jammes
(pequena homenagem a Coetzee de Elisabeth Costello e a F. Dostoievsky, o Mestre de Petersburgo)

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