28 julho 2004

Au Hasard Balthazar: camisola de lã.

Por uma vez Rosete esteve noiva. Ela alegre e viçosa, ele de baixa estatura mas garboso. Para se abrigarem do calor e do ataque incessante das moscas, acharam-se em casa dos pais dele. A mãe, com os dedos de pele áspera, tinha tricotado uma camisola de lã de decote generoso. Apesar do calor, pediu-lhe que a experimentasse ali mesmo, para verificar as medidas. O pai ficou de repente muito interessado no comando da televisão, mascando lentamente um fio de palha, os olhos longe do peito decotado não fosse alguma palavra ou interjeição revelar-lhe os pensamentos. A mãe contente e às voltas, apertando a maravilha exposta, apalpando mais do que compondo a camisola, ignorando que nada despe tanto como uma camisola de lã. O filho embaraçado ao ver a sua intimidade assim exposta, estranhando suar tanto só por causa do calor. Rosete manteve-se firme, apenas comentando a feliz escolha das cores. Não resultou. Talvez aquela pressa maternal, inocente mas provocadora, a tenha feito oscilar de tal modo que se manteve depois como que a pairar sobre todos os acontecimentos futuros. Ainda ontem a vi com a camisola vestida, estava linda.
Conheço bem esta história, posso contá-la em conto, sem acrescentar um ponto. É que o filho da mãe, o burro, era eu.
Jammes (burrinho burro).
PC

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