01 junho 2004

Bostali Bros

O nome dele é António. Quando chegou à cidade de T. era madrugada e vinha cansado. Apesar do seu coração ser fraco, António só se cansa em situações extremas, como as desse dia de aviação civil em carrocel por escalas absurdas. No Hotel Tammivalkama a reserva estava em nome de Bostali Bros. Ele protestou. O nome dele é António. Na língua do seu país, o nome que lhe tinham dado podia ser alvo de piadas a que se não queria expôr. Além do mais, o verdadeiro Bostali podia aparecer e não lhe apetecer partilhar o quarto. Disseram-lhe que a reserva tinha sido confirmada e que a tardia hora de chegada correspondia exactamente à hora em que ele se apresentava. Achou que não valia a pena desfazer o equivoco. O criado do hotel que lhe levou as malas guardou a gratificação e disse-lhe: Thank you Mr. Bros. Toda a noite sonhou com a rota que vem da Arabia para Istambul e do Mar Negro sobe pelo Dniepre até ao Golfo da Finlândia. Na reunião de trabalho da primeira manhã entregaram-lhe documentos com o nome de Bostali Bros. Fez uma intervenção sobre os problemas dos refugiados do Sudão e quando lhe pediram para repetir o nome, disse: Bros, Bostali Bros. E a voz não lhe tremeu. Jantei com ele todos os dias. Mostrou-me o sorgo, a luzerna e o trevo. Falou-me das camas especiais que criara para optimizar a produção de leite de vaca quando geriu uma empresa do ramo. Graças a ele sobrevivi áquele momento que, segundo Rosa Montero existe em todas as viagens, em que a viagem fica insuportável. Levou-me a Terra Feminarum, no hinterland russo, homenagear a matriarca de Polijola cujo nome era Louhi, uma bruxa poderosa, e nela homenagear todas as mulheres. Fiquei amigo de Bostali Bros e espero encontrá-lo em breve e muitas vezes no futuro.

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