22 maio 2004

Bang!

Quando o zangão consegue introduzir o aparelho copulatório na Rainha e descarrega o esperma, explode, bang . Deixa de existir, mas assegurou duas coisas: a transmissão dos seus genes e a exclusividade dessa transmissão. Os seus restos mortais obliteram a intimidade da Rainha e impedem-na, por algum tempo, de copular com um rival.
A Dra Tatiana(*)conta esta história no consultório sexual a propósito do mito da castidade feminina e da filandria dos machos. Mas não é este aspecto da história que me inquieta. Uma das minhas pequenas vantagens autísticas é nunca me ter preocupado com a fidelidade das mulheres e não ter sido preciso que dissecassem essa treva de terror que é o ciúme masculino para perceber que devia ter origem num comportamento ancestral das parceiras que pusesse a paternidade em incerteza.
O que me assusta, aqui como na louva-a-deus que devora o macho optimizando os seus espasmos penetrantes, é a demonstração do que Dawkins escreveu com crueza há quase trinta anos: somos o envelope do nosso DNA. Dançamos à sua música. Existe afinal um sentido oculto das coisas: o êxito da sobrevida do DNA, do material genético.
Que importa que o nosso envelope tenha desenvolvido o Sistema Nervoso Central, esse (outro) apêndice complexo com que se representa a si próprio e representa o mundo? Com que cria a música, a poesia, a religião e a blogosfera? Que importa que tenhamos conseguido dissociar a sexualidade e a reprodução (essa finta divina que Larkin celebrou e percebemos que aconteceu afinal há tão pouco tempo, em 1963, between the end of the Chatterley's ban and the Beatles first LP). ?
Querem um desígnio? Tomem o zangão. Bang, bang. Agradeçam que seja outra a Estratégia Evolutiva Estável que a vossa espécie seleccionou. Mas façam-no sem alarde. Humildemente.

(*) Dr Tatiana's sex advice to all creation, The definitive guide to the evolutionary biology of sex, Olivia Judson, Vintage 2003

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