26 abril 2004

4. Jardins, diz

O meu jardim foi o nosso. É o jardim central da minha vila.
O jardim onde comecei a namorar. Onde ele me disse, "mas tu não me conheces" e eu disse "tenho toda a vida para te conhecer". Uma afirmação destas aos 13 anos justifica-se pelo interlocutor.... e pelo jardim. No banco cor-de-rosa, o nosso banco, virado para o rio, roubaste-me o nosso primeiro beijo e eu soube que, afinal, beijar era bom. Não me tentaste desabotoar a camisa e eu pensei que por causa disso valias a pena. E no jardim havia os amigos, em bando, com violas e uns charritos. Nós eramos os que íam ao jardim. Um bocadinho "marginais", um nadinha "inadaptados". Resultámos todos em adultos e semi-adultos responsáveis e, creio, felizes. E os que não íam ao jardim pensaram sempre que a malta do jardim se ia perder. Enganaram-se, coitados. Do jardim propriamente dito, tenho a escrever que é composto por duas avenidas de creme e verde que desembocam num redondel com uma estátua a um senhor que morreu em combate e que os meus pais sempre disseram ser um parvo. Agora colocaram a estátua mais para a frente, pintaram os bancos e cortaram muitas das árvores. Continua a ser poiso dos delinquentes de serviço. Mudaram também os baloiços do parque infantil. Mas quando levo a minha afilhada ao parque (ela já filha de uma menina das que íam ao jardim), o riso dela baralha-me a retina e volto a ver os mesmos cavalinhos, o mesmo balancé.

//sent by Isadora, Paragem de Autocarro

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