18 fevereiro 2004

Instruam melhor os próximos processos

O julgamento do caso de aborto de Aveiro termina com a absolvição de todos os arguidos, disseram os jornais. Durante meses ou anos a Polícia Judiciária e o Ministério Público espiaram, seguiram, perseguiram, escutaram, interrogaram, amedrontaram, talvez tenham detido e retido e prendido gente como tu ou como eu. Quem decidiu que esta investigação era prioritária relativamente às de homicídios, roubos, violações, tráfico de mulheres, crianças, órgãos, drogas; de branqueamento de capitais, de corrupção activa e passiva, de negligência profissional, de abuso de menores? Quem deu as ordens? Quem coordenou as investigações? Quem passou os mandatos?
Foram absolvidos. Por falta de provas. Talvez sejam criminosas e criminosos. Mas não ficou provada a realização dos crimes. O processo foi mal instruído. Da próxima vez a Judiciária e o M.P. farão melhor, com meios mais adequados.

Em Aveiro, no largo do Tribunal, algumas pessoas festejaram. Senhoras em idade não reprodutiva e homens reformados; um ou outro político que o partido destacou para o evento. Nenhum de vocês foi. Tal como aconteceu no referendo. Ou não tinham idade, ou preferiam não sujar as mãos com o debate. Deixaram os militantes do coito interrompido a debater com as senhoras que recusam as terapêuticas substitutivas. Nem sequer votaram. Aquilo era uma quetão de...consciência privada. Enquanto a Inteligência Artificial, as Neurociências e a Psicologia evolutiva não se entendem sobre o que é isso da consciência privada cantou quem sabe de cor o cantochão: a hierarquia pura e dura da Igreja Católica Romana. No fim o professor Sá festejou com o Bagão Félix e vocês disseram: não faz mal, é uma lei que o PSD não vai deixar aplicar, não é nada comigo, se precisar faço IVG numa clínica conveniente, isto até foi bom que vai fazer avançar a educação sexual e o planeamento familiar.
A história não foi bem essa, como se viu. Mas no largo do Tribunal tudo como dantes. Um país envelhecido e sem saúde oral, um guetto de fantasmas incómodos.
Quando o Professor Cavaco for presidente e o Jardim presidente da Assembleia, vou-me embora. Preciso de pouca coisa para viver e até em Cabul há bibliotecas.

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