22 dezembro 2003

SÓ ENTRA SE VIER ÀS FATIAS

Voltei à Penitenciária
disfarçado.
Era de noite, e no primeiro pátio,
aproveitando a escuridão,
entreguei o teu B.I.
ao controle laxo da Cultura.
Devias afinal
Ser parecido comigo.
A funcionária eventual, já quase
sem contrato,
registou os teus dados,
sem suspeitas.

Eram já muitos os convidados,
todos com ar de vítima inocente.
E no meio deles, à paisana,
a segurança.
E entre eles, Vincent,
o meu inimigo de estimação,
bêbado de tanta denúncia e
distraído.

Uma mulher de couro fino,
apontou-me os mamilos
como dois faróis.
Os meus metais soaram,
sinais de alarme.
Mas ela, condescendente, disse:
São moedas, e passei
ao controle seguinte.

A psicóloga reconheceu-me.
Segredou-me: Espero
que venhas em paz.

O coração batia-me
os tambores do pânico.

Passei assim o primeiro portão
de grades,
e o chão forrado
da casca dos pinheiros
abafou o ruído dos meus passos.

Estava a fugir para dentro
da cadeia.
Os polícias não estavam treinados para
um disfarce assim.

No terceiro controle
o rapaz muito alto, que vende
candeeiros na cidade,
atraía as atenções
a meu favor.

Era já o túnel onde
começa a peça.
Voltara à cadeia.
Inteiro.
Apresentavam-se os reclusos
ao respeitável público.
515 era o meu número.
Mas estava sepultado
nos arquivos.
Dali prá frente
a minha luta era com o Kowalski
e os meus fantasmas.
Para essa, tinha-me vindo
a preparar.

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