02 novembro 2003

Os sinais desonestos, ah!


O pavão desenvolveu aquela assombrosa cauda como um ornamento sexual. Custou-lhe imenso. Tanta energia, músculo, tantas penas desviadas para aquela exibição. Uma enorme exposição aos predadores. O que um pavão fez para demonstrar a excelência dos seus genes ao olhar oblíquo das pavoas suas contemporâneas. Os riscos que gerações incontáveis de pavões correram para seleccionar um resultado tão medí­ocre, que parece hoje espantar mais a nossa espécie, sem evidente vantagem reprodutiva. A habituação das fêmeas aos ornamentos sexuais dos machos é o resultado de uma luta genética sem quartel entre genes femininos no cromosoma X, seleccionados sempre que contrariam os efeitos especiais de sedução promovidos pelos genes masculinos. Como se biológicamente as fêmeas favorecessem sempre formas de resistência à  sedução, obrigando os machos a uma espiral de espectacularidade.
A cauda do pavão, a crista do galo, a juba do leão, são sinais honestos.
O Ferrari, as tatuagens, os músculos inchados de esteróides são sinais desonestos.

Os meus genes, felizmente, continuam fáceis de enganar. Adoro os lábios com gloss sobreposto a bâton star red. E o blush poudre de douceur. E os smudgy eyes. E o lash extra lenght.

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