07 novembro 2003

O anonimato dos recém-nascidos

O ciúme é um diospiro verde, escreveu o André Bonirre, e desses sabores ele saberá. O ciúme masculino tem como explicação evolutiva a incerteza na paternidade que persegue os homens e o drama que, pelos vistos, é investir parentalmente num ser que, afinal, não transporta nenhum dos nossos genes. Históricamente, a incerteza na paternidade combate-se com a vigilância da sexualidade feminina: a clausura das mulheres, as restrições vestimentárias inspiradas na modéstia, o enfaixamento dos pés e o chaperonamento público, por exemplo.
No Canadá e no México ouviram as conversa nas maternidades em torno dos recém-nascidos. Todas as visitas, com relevo para os avós maternos, se esforçavam por achar parecenças com o pai. As frases mais ouvidas eram: -É a cara do pai! Este não esconde de quem é filho! Tem a mesma covinha no queixo. Franze o sobrolho como o paizinho. Como se todos, concluem estes investigadores, estivessem a pressionar os pais oficiais para investirem nos filhos.
De facto os recém nascidos não se parecem com ninguém. Os genes de parecença paterna foram reprimidos, dada a fantástica ameaça que prefiguravam. Foram seleccionados genes que dão aos bebés um seguro ar anónimo. As verdadeiras parecenças ficam para mais tarde.

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