17 agosto 2003

The end of the affair

Perguntam aos famosos o que lêem, qual o último livro que ofereceu ou que deixou a meio e eles respondem com alguma ligeireza, sem perceber que lhes estão a devassar a vida íntima. Ontem foi a vez da Clara Ferreira Alves, que já me deu tantas horas tão felizes, dizer, que estava a ler muitos livros ao mesmo tempo. “Uma orgia”- disse ela. Uma falta de respeito, penso eu. Imaginem que perguntam a um amigo onde esteve nas férias e ele vos responde Praga, Budapeste, Viena gostei imenso. Ou Kioto, Singapura, Pequim fascinante. Ou Buenos Aires, Valparaíso, Quito deslumbrante. Um livro é uma pessoa que está a falar connosco. Devemos ouvi-la nos olhos, com atenção. Ou pedir-lhe desculpa porque os nossos olhos se desviam irresistivelmente para a mesa do lado. Ela saberá compreender e calar-se, ou deixar-nos sozinhos como merecemos. Detesto a voracidade dos que não têm tempo. Lembro-me de um texto muito lindo sobre The end of the affair, do Graham Greene. Quantas pessoas o foram ler depois disso. E como ela o lia, o local que escolhia, o silêncio que havia em volta deles.

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